22/10/2008 - 10:00
Um dos grandes desafios de quem recebe a notícia de que tem câncer é superar o choque e iniciar o tratamento o mais rápido possível. Porém muitas vezes o paciente e seus familiares ficam com tantas dúvidas sobre o que virá pela frente que se sentem inseguros para dar os primeiros passos contra a doença. Com a finalidade de auxiliar nesta etapa tão delicada, alguns hospitais brasileiros começam a oferecer um novo serviço. Nessas instituições, já se pode ter o apoio de profissionais especialmente designados para orientar os doentes e seus acompanhantes. A missão deles é ser um ponto de referência e de apoio desde a fase de consultas até depois da alta, se o tratamento continuar em casa. Por isso, poderiam ser chamados de "anjos do câncer".
No Instituto do Câncer de São Paulo foi criada uma equipe de mais de 50 pessoas incumbida de acolher os pacientes às vésperas da primeira consulta depois do diagnóstico. O grupo, batizado de Acolhida, é formado por especialistas em nutrição, farmácia, enfermagem, psicologia e serviço social. Duas vezes por dia, eles se reúnem em duplas para explicar aos recémchegados rapidamente o funcionamento do hospital e as etapas do tratamento. Durante esse encontro, pacientes e familiares se apresentam e são encorajados a falar de si. Muitos se comovem, rezam, e, no final, agradecem à equipe por se sentirem menos sós e por ter o nome e o telefone de alguém do hospital a quem podem procurar para tirar as muitas dúvidas que já trazem. "As pessoas chegam fragilizadas. Precisam expor suas angústias, receber informação e apoio", explica a psicóloga Eliana Ribas, coordenadora do Programa de Humanização do hospital.
O Hospital do Câncer A.C.Camargo, também em São Paulo, fez uma opção diferente. Ali, a função de dar suporte emocional e prático aos pacientes é responsabilidade das enfermeiras de cada andar, que são conhecidas como tutoras. Nesse modelo, cada "tutora" acompanha quatro a cinco pacientes durante a internação para conhecer os detalhes do caso e dar as orientações de que a família precisa. No momento da alta, elas ensinam aos familiares o modo correto de lidar com as medicações, cateteres e sondas. Outra de suas funções é telefonar regularmente para monitorar o estado do paciente em casa. "Temºos uma lista de perguntas para avaliar se ele está bem. Os familiares ficam gratos e tranqüilos com esse apoio", diz a enfermeiratutora Juliana Passoni, 23 anos.
Foi em uma dessas ligações que ela percebeu a necessidade de pedir ao contador Luciano Ribeiro, 32 anos, que voltasse a se internar para cuidar dos efeitos colaterais intensos da quimioterapia. "A Juliana é nosso anjo da guarda. É a primeira vez que me sinto tão cercado de atenção e cuidado", diz Luciano, que trata a volta de um tumor de aparelho digestivo. Um dos resultados concretos do programa de apoio, criado há cinco meses, é a redução no número de visitas ao prontoatendimento para tirar dúvidas sobre medicações e efeitos colaterais da quimio e radioterapia.
Nos Estados Unidos, há redes desse tipo em funcionamento em renomadas instituições como o M.D.Anderson Cancer Center. Também existem profissionais de saúde autônomos ou voluntários treinados que podem ser contratados pelo paciente. Conhecidos por treinadores ou navegadores (do inglês coach e navigator, respectivamente), eles ajudam os doentes a tomar decisões e dão conselhos. A enfermeira americana Erin Sommerville, por exemplo, atua nessa área há 14 anos e apresenta seus serviços em um site na internet. "Ajudo pessoas com diferentes diagnósticos e em vários estágios de doença a tomar as decisões que precisam e a melhorar sua qualidade de vida. É um trabalho intenso, que exige muito preparo", disse Erin à ISTOÉ. Diante da grande procura por pessoas como Erin, que tem um certificado específico para atuar na área, a própria Sociedade Americana de Câncer começou a dar cursos para formar mais profissionais. A demanda por essa ajuda qualificada tem sido tão grande que diversas indústrias farmacêuticas já estão subsidiando os cursos de treinamento.