14/04/2023 - 9:30
Foi-se o tempo em que só cabia se vestir como nos anos 2000 em festa temática ou à fantasia. A moda Y2K (Year 2000) está de volta, esbanjando a diversão e a descontração da época, mas adaptada ao contemporâneo e à pluralidade de corpos. Jeans e vestidos com lycra, cintura baixa e mais aberta, tops cropped, saias curtas e espartilhos (os corsets) são alguns dos elementos da estética que nasceu associada a figuras como Britney Spears, Christina Aguilera e Shakira, mas que agora volta transformada. Um dos motivos é que a geração Z, nascida entre 1995 e 2010, e grande disseminadora da tendência, é conhecida por ser diversa, inclusiva, conectada e curiosa, não só pelas novidades, mas também pelo passado. “Reapropriar o estilo dos anos 2000 pode ser uma maneira de se destacar e se expressar de forma única hoje”, fala o coordenador do curso de moda do Centro Universitário FAAP, Fernando Hage.


Se na passagem de 1999 para 2000 a internet era novidade e o medo do bug do milênio, generalizado, hoje as mudanças culturais são bem mais fluidas e, antes de invadir as ruas, a tendência Y2K tomou as redes sociais. Era a moda para aparecer na tela. “No período pandêmico, a gente saiu da era do streetstyle para o ‘screen style’, em que a moda dos anos 2000, com seus detalhes todos, é muito interessante. A geração Z se apropriou disso, como a gente fez com os anos 1980”, fala Giovana Romani, jornalista especializada em moda e beleza, e criadora de conteúdo. Além dos perfis de celebridades e influenciadores digitais, produções audiovisuais são grandes responsáveis por incentivar esse retorno, como a série Euphoria (HBO Max) e o filme Barbie, que estréia em julho. “A boneca acompanhou os tempos e vestiu muitos lookinhos anos 2000, com suas minissaias, corsets e saltões”, diz Giovana.
Engana-se quem acha que vivem de brechós e armários antigos os fãs da Y2K. As marcas vêm criando peças novas e retomando o design antigo à medida que a tendência se espalha. “É como se, hoje, viesse ao meu encontro”, fala Giovana, que nunca abandonou o estilo, mas comemora o retorno da moda ao seu favor. “Eu consigo misturar o que é próprio da minha expressão, enquanto mulher e pessoa, com os elementos que estão em alta: um top totalmente jeans com uma calça com corte mais contemporâneo, um ‘conjuntinho 2000’ com um tênis.”


Memória afetiva
Foi unindo o melhor do velho e do novo mundo que grifes como Mirror Palais, Coach e Fendi trouxeram calçados plataforma, gargantilhas de flores, estampas com desenhos e super-heróis, e bolsinhas em formas diversas e cores vibrantes para as últimas semanas de moda. Na linha urbana, a Asics acaba de lançar um modelo com cabedal e paleta de cores inspirados nos tênis de corrida que foram febre há 23 anos. “Muitos designers atuantes no mercado viveram a juventude nos anos 2000 e acabam trazendo esse repertório para o seu processo criativo, revisitando estilos que estão na memória afetiva”, complementa Fernando Hage.
É principalmente com esse sentimento que o regresso a 2000 tem a ver. “Penso que a moda Y2K volta por conta da nostalgia que a pandemia trouxe, de olhar para o passado com um pouco mais de doçura e para esses códigos um pouco mais divertidos”, afirma Giovana, sem descartar o caráter mutável dessa arte. São esses ciclos que possibilitam repensar suas funções e a quem a moda serve, ressignificando e trazendo inspirações para quem, talvez, venha retomar o estilo daqui a vinte anos. “A moda é um fenômeno cíclico, tendências vão e voltam. O que foi considerado ultrapassado em um momento pode se tornar popular novamente”, comenta Fernando. “Não existe idade, existe o que te representa”, pontua Giovana.

