Foi-se o tempo em que as crianças e os jovens eram privados de assuntos envolvendo dinheiro. A popularização dos bancos digitais e novos instrumentos financeiros como o PIX têm facilitado a familiarização da rotina bancária para aqueles que ainda estão em idade escolar. Especialistas apontam os benefícios desse fenômeno e vêm pregando que os pequenos devem, sim, entender a importância de assuntos como o poder de compra. Contas bancárias voltadas para esse público podem ajudar na educação financeira.

Desde criança, o servidor público José Vicente Fonseca aprendeu com seus pais as vantagens de saber poupar. Agora, está passando esse aprendizado para os filhos. “Aprendi, desde cedo, a cuidar do meu dinheiro. Achamos muito importante fazer o mesmo com nossos filhos”, diz ele, explicando que fez a opção por uma conta digital para eles em razão do custo, da praticidade e da possibilidade de maior controle dos gastos. “É nessa conta que todo mês depositamos a mesadinha”, conta.

Entre as ferramentas oferecidas por esses novos produtos estão o controle de mesada virtual, cartões de débito e de crédito pré-pagos, ofertas de gift cards e opções de investimentos mais seguros, além de outras opções de gestão financeira. “Ganhar cartão dos meus pais foi interessante pelo fato de marcar uma nova fase financeira na minha vida”, reflete o estudante Bernardo Requena, de 16 anos. São serviços comparáveis aos fornecidos aos adultos. “Entro no aplicativo e vejo quanto tenho de dinheiro. Também costumo olhar quanto tenho investido”, diz.

Na palma da mão
 Menores de 18 anos são o público alvo dos bancos digitais
76,7% foi o aumento do número de jovens com contas bancárias entre 2005 e 2020 conforme o Banco Central
20% dos clientes do Banco Inter são menores de idade
18% dos clientes da Next tinham entre 0 e 5 anos até o final de 2021

Segundo Priscilla Salles, diretora de marketing do Inter, crianças e adolescentes podem contar na Conta Kids com uma plataforma completa em um único aplicativo, inclusive uma área exclusiva de compra de gift cards para diversas lojas. Atualmente, esse banco digital tem mais de dois milhões de correntistas apenas com esse perfil. “Acho muito legal ter conta, porque você pode comprar as coisas por conta própria”, fala Luísa Requena, de 11 anos.

Os aplicativos são práticos: é possível abrir uma conta apenas com o CPF em mãos. Em alguns casos, até mesmo a certidão de nascimento basta. “Depois que abrimos a conta, ficou tudo mais fácil para eles, pois hoje dá para comprar tudo pela Internet, desde joguinhos até roupas, e eles se viram bem nos aplicativos, ficaram craques com a pandemia”, afirma a mãe de Bernardo e Luísa, a psicóloga Silvia Requena.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA Com o aumento da procura, a Next investiu em uma conta para menores de 18 anos, diz Ricardo Urada, Chief Business Development Officer da fintech (Crédito:Divulgação)

Pesquisa realizada pela Quanto, em parceria com a Constellation, aponta que a tendência entre os usuários de smartphone no Brasil é manter diversas contas bancárias — e os jovens priorizam as fintechs. Ao todo, 16 instituições foram mencionadas pelos entrevistados, incluindo os cinco maiores bancos do País. Conforme dados do Banco Central, de 2005 a 2020 o número de jovens com contas bancárias subiu 76,7%, saltando de 13 milhões para 23 milhões.

Contas lúdicas

Além da limitação dos serviços disponíveis — empréstimos, por exemplo, são bloqueados —, as contas são mais lúdicas. No caso do nextJoy, conta da fintech Next, do Bradesco, existem trilhas educacionais com testes de conhecimento e exemplos para saber lidar com o dinheiro na vida real. Tudo apresentado e explicado por personagens da Disney.

“Missões”, por exemplo, permitem aos pais enviarem tarefas do dia a dia para os filhos realizarem, como arrumar o quarto e fazer a lição de casa. “A criação do nextJoy foi pautada em proporcionar uma relação mais saudável com o dinheiro e viabilizar uma maior independência financeira”, diz Ricardo Urada, Chief Business Development Officer da Next.

Na iti, conta digital do Itaú, a estratégia é parecida e foi criada após demanda dos clientes. “Nossa solução de conta para pessoas com idade a partir de 14 anos ajuda a controlar os gastos e programar os objetivos”, afirma João Araújo, diretor do iti Itaú. Para dar segurança aos pais, os serviços, em sua grande maioria, oferecem algum tipo de conexão com a conta dos responsáveis.

Eles recebem de relatórios mensais a notificações a cada transação. Para o planejador financeiro Thiago Cassini, essas contas são importantes para entender a função de um banco: ele também é a porta de entrada para a vida financeira adulta.“O surgimento das fintechs falou muito a situações como essa, pois essas empresas surgiram para tapar lacunas que eram deixadas por bancos mais tradicionais.”