Novo governo

Com menos de 24 horas do anúncio de Lula como presidente, pelo menos três dezenas de líderes internacionais já haviam cumprimentado aquele que vai governar o país pelos próximos quatro anos. As manifestações entusiasmadas ajudaram a carimbar a legitimidade das eleições e mostraram o alívio pela volta do Brasil ao cenário global. E a retomada efetiva de relações comerciais se dará em paralelo à agenda ambiental, de extrema urgência para o planeta, tanto que Lula foi prontamente convidado a participar da COP27, a conferência climática das Nações Unidas, que começa neste domingo (6) e vai até o dia 18. Nessa reunião do Egito, com 90 chefes de Estado, o brasileiro terá seu primeiro encontro com Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, que atestou Lula como colega eleito minutos depois do anúncio oficial, destacando o processo eleitoral como “justo e confiável” e reabrindo o canal de negociações entre a maior economia do mundo e o Brasil.

PRESTÍGIO Lula com o presidente Alberto Fernández: o argentino fez questão de vir a São Paulo para abraçar o vitorioso (Crédito:ESTEBAN COLLAZO)

Todas as principais lideranças internacionais se manifestaram de imediato. Emmanuel Macron, presidente francês, em telefonema se mostrou dos mais animados com o “início do novo capítulo na história do Brasil”. Os primeiros-ministros Rishi Sunak, do Reino Unido, e Olaf Scholz, da Alemanha, Ursula von der Leyen, pela União Europeia, todos os vizinhos da América do Sul e do Caribe, Canadá, Austrália, Japão… A fila reuniu do comunista chinês Xi Jinping à radical de direita Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana; do russo Vladímir Putin ao ucraniano Volodymyr Zelensky, inimigos em guerra, com o primeiro falando da “grande autoridade política de Lula” e o segundo se dizendo amigo “de longa data” do brasileiro.

Depois de Joe Biden ter sido incisivo na defesa das eleições no telefonema a Lula — e está sendo trabalhada a possibilidade de sua vinda para a posse, em janeiro —, o presidente da Argentina, Alberto Fernández optou por um bate-volta surpreendente, na segunda-feira, para cumprimentar o brasileiro em pessoa ainda em um hotel de São Paulo. O abraço foi um gesto simbólico muito forte, segundo Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da UnB. “O mundo acompanhava pari passu a situação do Brasil. Foi muito rápido e fundamental o reconhecimento imediato da vitória de Lula, a quem já trataram como estadista, e não apenas como candidato eleito”, diz. O professor destaca a importância de Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores, ao amarrar todos esses laços internacionais, e que pode voltar ao cargo ou ao menos seguir como assessor especial de Lula, na abertura desses canais de relacionamento com os líderes mundiais.

“Lula deseja focar no meio ambiente, na democracia e nos pobres de seu País. Ele quer salvar a Amazônia” Joe Biden, presidente dos EUA (Crédito:Susan Walsh)

Luciana Mello, especialista em Relações Internacionais e professora do Centro Universitário IBMR-RJ, assinala: “Não fosse Lula, talvez as manifestações não se mostrassem tão esfuziantes. Ele ‘é’ a diplomacia incorporada”, observa. “Com o atual presidente havia dificuldades, porque líderes mundiais não queriam sua imagem associada a ele.” Agora o Brasil volta a ser “aquele coleguinha que todos querem por perto”, continua. Mesmo sofrendo com problemas estruturais, o país tem potencial para abertura de muitas possibilidades e um mercado gigantesco, diz a professora. “Até países não tão alinhados querem um parceiro econômico de relevância como o Brasil, que continua sendo um player de peso. Não é um tanto-faz.” Há também o aspecto político e Goulart Menezes observa: “O Brasil volta como reafirmação da democracia, o que é de importância vital, por exemplo, para Macron e Biden, que enfrentam o avanço da extrema-direita de Marine Le Pen e Donald Trump.”

“Esperava impaciente por este momento, para relançar a nossa parceria estratégica” Emmanuel Macron, presidente da França (Crédito:Divulgação)

Com relação ao meio ambiente, a Noruega anunciou o retorno de investimentos contra os desmatamentos na Amazônia assim que saiu o resultado das eleições brasileiras, o que mostra a urgência de resoluções para um dos mais graves problemas do século 21: as mudanças climáticas aceleradas, necessitando da transição energética. Assim, Lula já foi colocado de cara na agenda ambiental, com o convite do presidente egípcio Abdel Fatah al-Sissi para a COP27. “Ele deve levar dois possíveis ministros: Marina Silva e Sônia Guajajara ou Célia Xakirabá, que ocupariam as pastas do Meio Ambiente e dos Povos Originários”, diz o analista. “E se sentar à supermesa, com EUA, França, Alemanha, como no Acordo de Paris 2015, que teve Dilma Roussef e o presidente americano Barak Obama. O atual presidente apequenou o Brasil, que agora retorna ao mundo. E está sendo abraçado.”