04/11/2022 - 9:30
Novo governo
Com menos de 24 horas do anúncio de Lula como presidente, pelo menos três dezenas de líderes internacionais já haviam cumprimentado aquele que vai governar o país pelos próximos quatro anos. As manifestações entusiasmadas ajudaram a carimbar a legitimidade das eleições e mostraram o alívio pela volta do Brasil ao cenário global. E a retomada efetiva de relações comerciais se dará em paralelo à agenda ambiental, de extrema urgência para o planeta, tanto que Lula foi prontamente convidado a participar da COP27, a conferência climática das Nações Unidas, que começa neste domingo (6) e vai até o dia 18. Nessa reunião do Egito, com 90 chefes de Estado, o brasileiro terá seu primeiro encontro com Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, que atestou Lula como colega eleito minutos depois do anúncio oficial, destacando o processo eleitoral como “justo e confiável” e reabrindo o canal de negociações entre a maior economia do mundo e o Brasil.

Todas as principais lideranças internacionais se manifestaram de imediato. Emmanuel Macron, presidente francês, em telefonema se mostrou dos mais animados com o “início do novo capítulo na história do Brasil”. Os primeiros-ministros Rishi Sunak, do Reino Unido, e Olaf Scholz, da Alemanha, Ursula von der Leyen, pela União Europeia, todos os vizinhos da América do Sul e do Caribe, Canadá, Austrália, Japão… A fila reuniu do comunista chinês Xi Jinping à radical de direita Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana; do russo Vladímir Putin ao ucraniano Volodymyr Zelensky, inimigos em guerra, com o primeiro falando da “grande autoridade política de Lula” e o segundo se dizendo amigo “de longa data” do brasileiro.
Depois de Joe Biden ter sido incisivo na defesa das eleições no telefonema a Lula — e está sendo trabalhada a possibilidade de sua vinda para a posse, em janeiro —, o presidente da Argentina, Alberto Fernández optou por um bate-volta surpreendente, na segunda-feira, para cumprimentar o brasileiro em pessoa ainda em um hotel de São Paulo. O abraço foi um gesto simbólico muito forte, segundo Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da UnB. “O mundo acompanhava pari passu a situação do Brasil. Foi muito rápido e fundamental o reconhecimento imediato da vitória de Lula, a quem já trataram como estadista, e não apenas como candidato eleito”, diz. O professor destaca a importância de Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores, ao amarrar todos esses laços internacionais, e que pode voltar ao cargo ou ao menos seguir como assessor especial de Lula, na abertura desses canais de relacionamento com os líderes mundiais.

Luciana Mello, especialista em Relações Internacionais e professora do Centro Universitário IBMR-RJ, assinala: “Não fosse Lula, talvez as manifestações não se mostrassem tão esfuziantes. Ele ‘é’ a diplomacia incorporada”, observa. “Com o atual presidente havia dificuldades, porque líderes mundiais não queriam sua imagem associada a ele.” Agora o Brasil volta a ser “aquele coleguinha que todos querem por perto”, continua. Mesmo sofrendo com problemas estruturais, o país tem potencial para abertura de muitas possibilidades e um mercado gigantesco, diz a professora. “Até países não tão alinhados querem um parceiro econômico de relevância como o Brasil, que continua sendo um player de peso. Não é um tanto-faz.” Há também o aspecto político e Goulart Menezes observa: “O Brasil volta como reafirmação da democracia, o que é de importância vital, por exemplo, para Macron e Biden, que enfrentam o avanço da extrema-direita de Marine Le Pen e Donald Trump.”

Com relação ao meio ambiente, a Noruega anunciou o retorno de investimentos contra os desmatamentos na Amazônia assim que saiu o resultado das eleições brasileiras, o que mostra a urgência de resoluções para um dos mais graves problemas do século 21: as mudanças climáticas aceleradas, necessitando da transição energética. Assim, Lula já foi colocado de cara na agenda ambiental, com o convite do presidente egípcio Abdel Fatah al-Sissi para a COP27. “Ele deve levar dois possíveis ministros: Marina Silva e Sônia Guajajara ou Célia Xakirabá, que ocupariam as pastas do Meio Ambiente e dos Povos Originários”, diz o analista. “E se sentar à supermesa, com EUA, França, Alemanha, como no Acordo de Paris 2015, que teve Dilma Roussef e o presidente americano Barak Obama. O atual presidente apequenou o Brasil, que agora retorna ao mundo. E está sendo abraçado.”