19/08/2022 - 9:30
Em O Último Magnata, de 1941, o escritor F. Scott Fitzgerald declarou que “não havia segundo ato nas vidas americanas”. Oito décadas depois, um astro de Hollywood o desmentiu: após três anos de inferno astral, período em que teve contratos suspensos, sofreu o cancelamento na internet e quase foi obrigado a encerrar a carreira, Johhny Depp está de volta com novos projetos no cinema, uma campanha publicitária milionária e um álbum novo, como guitarrista, ao lado de grandes estrelas do rock.
A ascensão de John Christopher Depp II nas telas foi meteórica. Desde o início da carreira, aos 20 anos, emplacou sucesso atrás de sucesso, em uma das trajetórias mais bem sucedidas de sua geração. A estreia foi em A Hora do Pesadelo (1984), filme de terror que virou cult e explodiu nas bilheterias. A fama lhe rendeu o convite para estrelar o seriado Anjos da Lei e, pouco depois, para ser o protagonista de Edward Mãos de Tesoura, de Tim Burton. Produção modesta para os padrões hollywoodianos, custou US$ 20 milhões e rendeu cinco vezes mais. Os elogios foram unânimes e geraram a primeira de suas dez indicações ao Globo de Ouro de Melhor Ator – ele também já foi nomeado a três Oscars. Burton e Depp lançaram blockbusters como A Fantástica Fábrica de Chocolate e Alice no País das Maravilhas, mas foi outro personagem que lhe rendeu fama e fortuna em quantidades absurdas: o capitão Jack Sparrow, de Piratas do Caribe. Pelos cinco filmes da série, Depp recebeu mais de US$ 100 milhões, entre salários e direitos de imagem.

A fama em números
10 Indicações ao Globo de Ouro de Melhor Ator. Ao Oscar, foi indicado três vezes
25 milhões
Cachê, em dólares, que ele receberia por Piratas do Caribe 6, participação cancelada após as acusações de Amber Heard
25 anos
Tempo em que Depp ficou sem trabalhar como diretor. Seu último filme havia sido O Bravo, em 1997
Apesar do sucesso, Depp nunca se contentou com o papel de ator. Aventurou-se como diretor em 1997 em O Bravo, filme que contou com a participação de ninguém menos que Marlon Brando. Teve também a oportunidade de realizar seu sonho de infância: ser músico. Tocou guitarra com a banda britânica Oasis e com a lendária cantora nova-iorquina Patti Smith, até ser chamado para integrar o Hollywood Vampires, supergrupo que reúne o vocalista Alice Cooper, Joe Perry, do Aerosmith e Duff McKagan, do Guns ‘N’ Roses, entre outros roqueiros de peso.

Na vida pessoal, teve romances com diversas estrelas até se casar com a atriz Amber Heard, que ele havia conhecido no set de filmagem de Diário de um Jornalista Bêbado. Começava ali a sua ruína: seus problemas com drogas, álcool e remédios o levaram a um relacionamento destrutivo, com relatos de violência doméstica de ambas as partes. Em 2018 veio a gota d’água, quando ela publicou um artigo no jornal The Washington Post citando agressões sofridas pelo então marido. Surgiu então o cancelamento generalizado: Depp perdeu contratos publicitários e foi demitido da nova versão de Piratas do Caribe. Processou Amber, que o processou de volta. Acompanhado ao vivo por milhões de pessoas, o julgamento teve um veredito favorável a ele: a atriz terá de pagar-lhe cerca de US$ 8 milhões de indenização.
A vitória no tribunal mudou tudo. Depp foi imediatamente convidado a voltar aos sets de filmagem, em dose dupla. Como ator, foi escalado para o papel do rei Luis XV no novo filme do diretor francês Maiwenn, cuja produção começou esse mês no Palácio de Versailles, em Paris. Anunciou também que voltará a atuar como diretor, o que não faz há 25 anos. Com produção de Al Pacino, ele estará à frente da cinebiografia do artista Amedeo Modigliani. “Estou honrado em poder levar às telas a incrível vida desse pintor italiano. Sua vida foi dura, mas triunfante. É uma história universal com a qual todos poderão se identificar”, afirmou.
A reviravolta chegou à publicidade: o ator de 59 anos fechou um contrato na casa dos sete dígitos para retomar o posto de garoto-propaganda do perfume Sauvage, da Dior, campanha que estava suspensa. Até a carreira na música foi retomada: depois de voltar a tocar com o Hollywood Vampires, lançou um álbum em parceria com Jeff Beck, um dos maiores guitarristas da história do rock. 18 traz versões de John Lennon e Beach Boys, além das composições próprias Sad Motherfuckin’ Parade e This is a Song for Miss Hedy Lamarr.
Graças à boa fase, seu advogado declarou que o astro pode abrir mão da indenização da ex-mulher, porque o caso nunca foi sobre dinheiro, mas sobre a recuperação de sua credibilidade. “O veredito tirou o peso do mundo de seus ombros. Ele finalmente recuperou sua vida”, afirmou. Bem-vindo ao segundo ato da vida de Johnny Depp.