29/04/2022 - 9:30
A arquiteta Tânia Fernandes, responsável por projetos de empresários ligados à indústria do mármore no Espírito Santo, não passou despercebida em evento realizado este ano no Ministério do Desenvolvimento Regional em que ela aparece toda sorridente e com destaque (no centro da foto), ao lado do ex-ministro Rogério Marinho que, até então, era um dos homens mais poderosos da República – atualmente é candidato a governador do Rio Grande do Norte, com o aval incondicional de Bolsonaro. Se na fotografia não surgisse o filho 04 do presidente, o influencer digital Jair Renan, que também aparece todo faceiro na foto (o último à direita), tudo poderia transparecer que tratava-se de uma reunião de negócios. E realmente era um encontro envolvendo interesses do governo. Mas, nesse caso, também estavam em jogo nessa enigmáticatico encontro outros negócios pouco ortodoxos em torno dos quais a Polícia Federal desconfia haver uma rede de tráfico de influências, com a participação de altos funcionários do governo e até de ministros, além de empresários flagrados em transações para lá de suspeitas pelos policiais. E entre os suspeitos dos crimes investigados está o filho do presidente.
A empresária capixaba, de acordo com a PF, é também investigada por ajudar o 04 a reformar o escritório de sua empresa de eventos no Distrito Federal, usando peças de mármore dos clientes que representa no Espírito Santo, criando, assim, uma grande teia do suposto tráfico de influência na reforma do escritório de Jair Renan no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Mensagens enviadas por ela a Allan Lucena, personal training do 04, e obtidas pela PF no inquérito do tráfico de influência sobre a reforma, revelam que a arquiteta se referia de forma jocosa à busca por empresários dispostos a “patrocinar” o projeto de reforma de Jair Renan. “Vamos pedir bolsa móveis, bolsa reforma, bolsa família”, escreveu ela, em uma mensagem apreendida pela PF. Parecendo se divertir com a situação, Allan responde: “Já-já sai na mídia. Filho de presidente pede Bolsa Móveis”. Foi da arquiteta, aliás, a iniciativa de procurar um dos assessores da Presidência, Joel Novaes, para viabilizar a reunião no ministério de Rogério Marinho. Logo em seguida ao contato com o assessor, Tânia, em mensagem ao 04, fala da importância da presença dele no encontro e da expectativa de aproveitar a oportunidade para tentar apresentar os empresários a Bolsonaro: “Renan, amado, (…) seria interessante você ir porque o seu acesso é mil vezes mais fácil”, argumenta ela, dando a entender que a presença dele no Ministério abriria outras portas do governo para negócios variados dos empresários do mármore com o governo. Em depoimento à PF, Jair Renan negou qualquer irregularidade e disse que outras pessoas usaram o nome dele para “ganhos pessoais”.
Diferentemente do pai e dos três irmãos mais velhos, o influencer digital e estudante de Direito, de 24 anos, não tem, oficialmente, atividades políticas. Seria o caminho natural, mas ele vai ter que esperar: familiares do presidente da República não podem se candidatar, a não ser para a reeleição de seus cargos atuais. Isso não quer dizer, contudo, que o caçula esteja longe dos descaminhos dos gabinetes de Brasília. E isso está sobejamente demonstrado nas investigações da PF sobre eventual tráfico de influência do 04 em intermediações de contatos de empresários com o governo federal. Em troca, eles pagariam por serviços da reforma no camarote que Renan alugou no Estádio Mané Garrincha para sediar sua empresa de games, a Bolsonaro Jr. Eventos e Mídia.
Em mais de uma ocasião, o filho 04 compareceu a reuniões com ministros do pai e, em um desses encontros, com a presença de Rogério Marinho, Renan estava na companhia dos empresários capixabas John Thomazzini e Wellington Leite. Os dois foram levar ao ministro um projeto de construção de casas populares feitas em granito. Falavam em nome da Gramazini Granitos e da Mármores Thomazini. A foto do encontro foi publicada nas redes sociais do então sócio de Jair na empresa, o personal trainer Allan Lucena. Antes da reunião, o 04 e Allan haviam recebido dos empresários um carro elétrico no valor de R$ 90 mil, que, oficialmente, seria destinado a uma instituição sem fins lucrativos, mas era usado de forma esnobe por Allan por todos os cantos de Brasília. Aficcionado por jogos eletrônicos, o 04 também esteve na Esplanada dos Ministérios para se reunir com o então secretário especial da Cultura, Mário Frias, fora da agenda. Oficialmente, o encontro foi marcado para falar sobre o “futuro do e-sport”(competições de jogos eletrônicos). Posteriormente ao encontro, a pasta da Cultura separou R$ 4,6 milhões para investir no projeto “Casinha Games”. Como a transparência não é mesmo o ponto forte deste governo, Frias preferiu bater boca com os críticos da ideia e se restringiu a dizer que se tratava de um “projeto profissionalizante para jovens”. A história segue nebulosa, segundo o deputado Alexandre Padilha. Na quarta-feira, 27, ele pediu providências ao TCU sobre um pedido de informação que fez ao Ministério do Turismo “a respeito de denúncias publicadas na imprensa que noticiaram o suposto envolvimento de um dos filhos do presidente na destinação de recursos do Fundo Nacional da Cultura”.