O leilão da banda D foi um sucesso? Em comparação com a frustração total da banda C em janeiro, pode-se até dizer que sim. Pelo menos, as três licenças foram vendidas. Bem, pelo menos duas e meia. A Telemar arrematou a licença 1 (do Rio ao Amazonas). E a Telecom Italia Mobile (TIM), a licença 3 (para o Estado de São Paulo) e a 2 (para o Centro-Sul) – só que precisa abrir mão de 38% da população dessa região, já que controla a Tele Celular Sul (detentora da banda A no Paraná e em Santa Catarina) e não pode concorrer com ela própria.

Para complicar, a licitação da banda E ficou quase esvaziada: apenas uma concorrente deve apresentar proposta – a TIM – e só na região 1 (do Rio de Janeiro ao Amazonas), onde seu problema vai se repetir, pois ela também já detém concessões nessa região: a Tele Celular Nordeste na banda A e a Maxitel (Bahia, Sergipe e Minas) na banda B. Ou seja, só pode realmente ficar com o Rio, o Espírito Santo e a Amazônia, que representam apenas 47% da área 1.

Se isso se confirmar e o governo não tiver sucesso na tentativa de licitar novamente a banda C, o total arrecadado não vai passar de R$ 2,9 bilhões, 43% do preço mínimo total de R$ 6,73 bilhões e metade dos R$ 5,8 bilhões previstos no orçamento da União. Detalhe: o pagamento é em duas parcelas, uma à vista e outra em 12 meses. Mesmo que o governo convença a TIM e a Telemar a antecipar a segunda parcela (no caso da Telemar, vale lembrar, o próprio governo continua sendo o maior acionista), fica um rombo de R$ 2,9 bilhões na receita da União, o que dá 30% do prometido aumento de R$ 9,5 bilhões nos gastos sociais em 2001.

No final do ano passado, havia previsões de que a licitação das três novas bandas renderia até R$ 20 bilhões, ou mais de US$ 10 bilhões. Não parecia absurdo: em abril, um leilão de concessões equivalentes rendeu US$ 35 bilhões no Reino Unido, em junho, houve outro que rendeu US$ 46 bilhões na Alemanha. Porém, em outubro, a festa já estava acabando: o leilão italiano, em vez dos US$ 45 bilhões esperados, rendeu 11 bilhões (só 15% acima do preço mínimo).

O próprio exagero dos primeiros leilões europeus trouxe dificuldades para as empresas que ofereceram essas somas fantásticas. No total, foram investidos US$ 250 bilhões. Segundo The Economist, foi o maior investimento num tempo tão curto já feito por qualquer setor em toda a história – e todo na compra de ar. Para isso, as gigantes da telefonia sobrecarregaram-se com os maiores empréstimos empresariais de todos os tempos justamente quando começava a crise de confiança na “nova economia”, quando os acionistas dessas empresas começaram a colocar em dúvida se as pessoas estão mesmo tão ansiosas por acessar a internet via celulares ou mesmo se o sistema vai funcionar tão bem quanto se espera. As ações de empresas sólidas como AT&T, British Telecom, France Télécom e Deutsche Telekom se desvalorizaram numa média de 50%; empresas menos sólidas que se atreveram a entrar nesse jogo, como a canadense TIW, perderam 85% ou mais de seu valor. Agora, mais nenhuma empresa vai ter condições, mesmo que queira, de fazer apostas tão ousadas.

Demora fatal – A licitação das novas bandas no Brasil foi inicialmente prevista para 1997. Entretanto, em 1996 o ministro das Comunicações anunciou que essas frequências (ainda usadas pelas Forças Armadas) só seriam abertas às operadoras privadas em 1999, para que as operadoras das bandas A e B tivessem tempo de recuperar seu investimento. Em 1999 foi anunciado que as licitações seriam realizadas até os primeiros meses de 2000. Seria o momento ideal, o auge da febre. Mas a Anatel demorou demais para definir as áreas de concessão e o padrão a ser usado – o europeu ou o americano. A escolha final pelo padrão europeu pode ter sido acertada, mas a demora foi fatal. Quando o governo brasileiro decidiu com que prancha ia surfar, a onda tinha passado.

O ABC das bandas
Como no rádio, para evitar interferência, é preciso organizar o uso dos canais. A Anatel os agrupou em cinco bandas: A, B, C, D e E. As bandas C, D e E já surgem em altas frequências (1.725 a 1.850 MHz). Para adotar a nova tecnologia da terceira geração, as companhias das bandas A e B, hoje de 824 a 891 MHz, também terão de passar a trabalhar com frequências mais altas, de 1.900 a 1.990 MHz, já reservadas pela Anatel.