14/03/2001 - 10:00
Fotos: Ricardo Giraldez |
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As crianças Luan e Lívia são atendidas nas instalações sofisticadas do prédio |
Quem subir as ruas empoeiradas da favela de Paraisópolis, a segunda maior de São Paulo, poderá se espantar. Não por causa das condições de pobreza do local. O susto acontecerá justamente pelo contrário. No meio de barracos e esgoto a céu aberto foi inaugurado, na semana passada, um ambulatório para atender as crianças da comunidade com até dez anos. O Complexo Telma Sobolh tem 4,5 mil metros quadrados de área e infra-estrutura de Primeiro Mundo. Trata-se de uma iniciativa do Hospital Israelita Albert Einstein, que conta com a participação de mais de 200 pessoas, entre médicos, psicólogos, fisioterapeutas, agentes comunitários e voluntários.
A construção do prédio custou cerca de R$ 1,8 milhão. A maior parte do dinheiro é mérito das voluntárias da Sociedade Beneficente Israelita, que organizam bazares e festas para conseguir recursos. O valor gasto faz justiça às instalações do ambulatório. A fachada é até discreta, mas só se tem a verdadeira noção do que o prédio contém quando se chega na recepção. As paredes são coloridas, contrastando com o aspecto sombrio dos barracos. O visitante tem a impressão de estar em um hospital digno de Primeiro Mundo. “Um ambiente assim ajuda as pessoas a se sentir melhor”, diz Telma Sobolh, presidente do voluntariado.
A história do ambulatório de pediatria começou há cerca de 30 anos, quando as crianças de Paraisópolis eram atendidas no Albert Einstein com problemas como desnutrição e doenças respiratórias. No entanto, percebeu-se que o índice de reinternação dos pequenos chegava a 40%. “Não adiantava tratar apenas as doenças, mas atuar nas causas dos problemas”, conta Reinaldo Brandt, presidente do hospital. Era necessário mudar hábitos de vida, agindo também junto aos pais. A opção seria conviver mais perto da realidade deles. Há três anos, foi montado o primeiro ambulatório numa pequena casa da região, só agora ampliado. Os frutos dessa iniciativa já estão maduros. O índice de internação anual, por exemplo, caiu de 1.065 em 1998 para 240 casos atualmente (confira os outros resultados positivos no quadro).
Os filhos da dona-de-casa Helena da Silva, 36 anos, desfrutam desses benefícios. Luan, com um ano e sete meses, foi operado por problemas cardíacos e está bem. A outra filha, Lívia, com três anos, foi tratada contra a desnutrição. Helena recebeu orientação na oficina de nutrição do programa. “Aprendi a alimentá-la no horário certo”, conta. O programa, que tem parcerias com empresas, oferece cursos para gestantes e de planejamento familiar, oficinas de trabalhos manuais e até uma quadra poliesportiva. Se depender do avanço das atividades, Telma conquistará seu sonho: atender as 13 mil crianças de Paraisópolis. Por enquanto, oito mil recebem atendimento.