Novo governo

Sensibilidade e mãos de jardineiro cuidarão do verde; do clima, mãos limpas. “Precisamos da Amazônia viva”, declarou Lula em seu primeiro pronunciamento. A sentença praticamente resume em quatro palavras o seu programa de política ambiental, com foco na drástica redução do desmatamento para chegar ao limite de 1,5ºC no aquecimento global, conforme fixado no Acordo de Paris. O presidente eleito reiterou, assim, o seu compromisso com a sustentabilidade do meio ambiente. O Brasil gostou. O mundo respirou. Prova disso é o convite que lhe foi feito pelo presidente do Egito, Abdel Fatah Al-Sissi, para participar, sem sequer estar diplomado como presidente do Brasil, da Conferência do Clima da ONU (COP27), juntamente com noventa chefes de Estado.

Convite aceito, Lula lá desembarcará com a ex-ministra do Meio Ambiente e deputada federal Marina Silva, levando na bagagem os principais pontos de seu programa de governo no setor ambiental – programa feito, sobretudo, por ele próprio, para ajudar a salvar o Brasil e o planeta, porque, como poucos, é Lula quem conhece os rincões do País e as quatro partes do mundo. A ousada meta, que consta do programa, é a de manter tolerância zero com o desmatamento. Na COP27 ele deverá anunciar o novo ministro do Meio Ambiente. O cargo, que já foi sujado por um arrombador de porteira, é bem provável que seja assumido por Marina Silva. Ao revelar o ocupante ou a ocupante em um evento global, Lula cobre o nomeado ou a nomeada de responsabilidade. E a si. Outro ponto alto do programa petista é a criação da Autoridade Nacional de Segurança Climática. Ideia de Marina e Lula. Pode ser que, bem mais que emplacar o ministério, ela assuma a chefia de tal órgão.

AMAZÔNIA Ação humana e depredação desumana: coisa do passado (Crédito:Divulgação)

Seguindo no programa, depara-se com demais itens de relevância: a exploração dos créditos de carbono (hoje a Amazônia mais emite, menos absorve), que pragmaticamente se traduz no recebimento de dinheiro em troca de cuidado ambiental. Mais: o progressivo desuso de combustíveis fósseis e o zelo pelas etnias indígenas, uma vez que a sustentabilidade de suas lavouras em consumo comunitário implica natural proteção humana contra desumana destruição. Também as populações ribeirinhas serão auxiliadas financeiramente com a implantação do Bolsa Verde, e essas populações estarão cuidando da mata pelo simples fato de nela se fixarem. Para o coordenador de Incidência Política do WWF-Brasil, Raul do Valle, “o programa de Lula já mudou o status do Brasil no mundo”. Quando exilado na Itália, durante a ditadura militar, Chico Buarque (Prêmio Camões e amigo de Lula) compôs Nicanor. Diz a letra que Nicanor “tinha mãos de jardineiro quando tratava de amor”. Lula é Nicanor tratando da Amazônia.

CONFIANÇA Barth Eide: cofre aberto com US$ 641 milhões (Crédito: Annika Byrde)

Noruega e Alemanha, novamente parceiras

A vitória de Lula transformou-se na senha que abriu o cofre em que estão nada menos que US$ 641 milhões. Trata-se da verba da Noruega para o Fundo de Preservação da Amazônia, dinheiro que estava congelado pelas autoridades norueguesas desde 2019, quando Jair Bolsonaro dele desdenhou e começou a mostrar ao mundo que trazia motosserra nos dentes. Como se estivesse com um cheque ainda em branco em mãos, uma vez que a gestão Lula só começa em janeiro, mesmo assim o informal senhor Espen Barth Eide, ministro do Meio Ambiente da Noruega, o endossou: “basta-nos a palavra de Lula, basta o seu anúncio de que colocará fim ao desmatamento da floresta e o auxílio ao governo brasileiro, para que alcance tal propósito, está liberado”. Plena similaridade deu-se na Alemanha envolvendo o Ministério Federal do Meio Ambiente e Proteção da Natureza e Segurança Nuclear. “Em princípio estamos prontos para liberar os recursos congelados para o Fundo da Floresta Amazônica”, posicionou-se, por meio de seu porta-voz, a ministra Steffi Lemke. Noruega e Alemanha são os dois principais países a investirem no fundo.