25/05/2005 - 10:00
Desde que assumiu a presidência da organização World Resources Institute (WRI), há dez anos, o americano Jonathan Lash propõe alternativas para conciliar ecologia e progresso. A ONG reúne empresários, cientistas, lideranças ecológicas e políticas e foi peça-chave em um dos maiores empreendimentos científicos da história. No estudo, 1.360 cientistas concluíram que a humanidade solicitou tanto da natureza que não há garantias de que ela dê sustento às futuras gerações. Antes de viajar ao Brasil, onde participará do congresso ibero-americano sobre desenvolvimento sustentável, no Rio de Janeiro, ele deu a seguinte entrevista:
ISTOÉ – Os cientistas dizem que a água, o ar e os solos estão poluídos e há menos peixe nos rios. Dá para recuperar esse estrago?
Jonathan Lash – Eles mostram que os recursos naturais estão em estado de alerta, mas que a natureza é resistente. Sou otimista pelo que é possível fazer, embora tudo aponte para a direção errada. Há mais gente dependendo da floresta, da agricultura, dos oceanos e dos rios. Como não há preço pelo uso desses sistemas, não há interesse em preservá-los. Cada um arranca o que puder.
ISTOÉ – Como reverter esse quadro?
Lash – Muitos dos problemas de hoje, assim como a economia, são globais, e não há como resolvê-los sem acordos globais. Algumas empresas já reconhecem que, no futuro, terão que lidar com a mudança climática. E já vêem isso como oportunidade de negócios. São casos em que os interesses das empresas e do mundo coincidem. Se não mudarmos alguns de nossos hábitos, estaremos roubando o futuro dos nossos filhos e netos. Podemos administrar melhor os recursos naturais, mas não fazemos isso. Não se trata de ter uma vida pior, mas de usar o conhecimento para diminuir nossa pegada no planeta.
ISTOÉ – Como o sr. espera mobilizar o mundo se os EUA, o maior poluidor, estão fora desse movimento?
Lash – Algumas empresas petrolíferas já reconhecem o aquecimento global
como um problema e começam a reduzir suas emissões. A indústria energética americana teme que seus interesses econômicos sejam ameaçados, mas isso deve mudar nos próximos anos. São os primeiros sinais da primavera, mas ela mesmo ainda não chegou.
ISTOÉ – A disputa pela água será o estopim de uma nova guerra?
Lash – Não há elemento mais essencial para o bem-estar humano do que a água, só que seu uso cresceu duas vezes mais rápido do que o aumento da população. Há um medo de que a escassez leve a conflito, mas temos tecnologia para ser mais eficientes e responder à escassez com inteligência em vez de conflito. Quando se reconhece que a água é mais importante do que o petróleo, nada é caro demais.
ISTOÉ – Com o aumento do nível do mar, quem quer comprar uma casa na praia deve pensar duas vezes?
Lash – A questão é se você quer comprar uma casa para desfrutar agora ou se é algo para seus filhos e netos. É provável que o aquecimento global provoque mais tempestades, o que significa risco para o litoral. As pessoas precisam pensar com cuidado antes de planejar a compra de uma casa na praia.
ISTOÉ – É possível remunerar de forma digna quem sobrevive da floresta?
Lash – As nações mais ricas devem cumprir a promessa que fizeram há 13 anos, de destinar 0,7% de seu PIB para ajuda humanitária. Só uns poucos países europeus cumpriram. A imensa maioria não fez nada. Continuamos discutindo como fazer para que elas cumpram sua promessa.