08/11/2006 - 10:00
A posse dos novos governadores está marcada para 1º de janeiro, mas a romaria à Brasília para dar um forte abraço – e pedir gordas verbas – ao presidente Lula já começou. Chegou primeiro o governador eleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, do PMDB. Recebido no Palácio do Planalto na segunda-feira 30, ele tratou com o presidente sobre obras de saneamento básico na Baixada Fluminense e na zona oeste do Rio, a ampliação do metrô carioca e até da dragagem do porto de Itaguaí, na baía de Sepetiba. Pode-se estimar o valor dessas obras em cerca de R$ 3 bilhões, mas se apenas uma parte desse dinheiro for liberada por Lula em 2007, Cabral vai se manter um lulista fiel, dentro do PMDB, para manter o partido na base de apoio ao presidente.
No dia seguinte, foi a vez de Eduardo Campos, eleito pelo PSB em Pernambuco, tomar o seu cafezinho com o presidente. Ele foi direto ao ponto: pediu a renegociação de uma dívida de R$ 240 milhões do Estado com a Caixa Econômica Federal, a restauração da Sudene e, ainda, quis saber quando começam as obras da refinaria de petróleo de Pernambuco, uma parceria já assinada entre a Petrobras e a venezuelana PDVSA. Campos, que já foi ministro da Ciência e Tecnologia de Lula, mas precisou enfrentar o também ex-ministro Humberto Costa para ganhar a eleição, pediu, ainda, espaço para o PSB na administração federal. O presidente teve tempo para suspirar e, solícito, mostrou disposição para contemplar todos os pleitos.
O presidente tem planos de usar o governador de Minas, Aécio Neves, como pólo de atração dos demais governadores. A primeira missão seria a coordenação de uma minirreforma tributária, com a unificação das legislações estaduais do ICMS. Esse projeto também interessa ao paulista José Serra. Haverá, é claro, um preço. O governador mineiro ainda tem dívidas do Estado com a União a resolver, e conta com a boa vontade de Lula. Quanto a Serra, ele próprio já deixou claro, em pronunciamento na terça-feira 31, que São Paulo precisa de mais verbas federais para ampliar o metrô, melhorar o atendimento à saúde e reforçar sua área de segurança. “Procurarei ter com o presidente as melhores relações institucionais possíveis”, afirmou Serra.
A verdade é que, se os governadores estão em seu papel de pedir sempre mais para seus Estados, a safra que se completou nas urnas do segundo turno foi amplamente favorável a Lula. O presidente conta, de saída, com 16 governadores aliados entre os 27 eleitos, sendo que cinco são do PT – o partido só elegera três em 2002. Mesmo quando houve decepção, como a derrota de sua preferida Roseana Sarney, do PFL, no Maranhão, a compensação veio na mesma hora. O eleito Jackson Lago, do PDT, que se manteve neutro entre Lula e Alckmin tanto no primeiro como no segundo turnos, não será nenhuma pedra no sapato do presidente. No Paraná, onde a eleição de Osmar Dias, também do PDT, poderia lhe trazer problemas, Lula saboreou a vitória apertada, mas de virada, do atual governador Roberto Requião, um aliado que, quando muito, só poderá tentar lhe fazer uma oposição pela esquerda – e, como se viu pelo fraco desempenho da candidata Heloísa Helena, do PSOL, a esquerda ainda está com Lula. Não se esperam problemas no relacionamento de Lula com os titulares dos Estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, pela dependência do cofre do governo federal e, ainda, em razão das vitórias de amigos velhos e novos do presidente. No primeiro caso está Jaques Wagner, do PT, na Bahia. No segundo, Blairo Maggi, do PPS, no Mato Grosso.
O nó para o entendimento com os governadores, além da disposição para a cessão de verbas, poderá estar escondido nos ninhos tucanos. A eleição de Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul, não estava nos planos do Planalto – nem de ninguém. Com ela, o PSDB passou a controlar as três principais economias do País. Se aí estará uma espécie de Triângulo das Bermudas político de Lula, é o que se verá a partir de 2007.