05/08/2003 - 10:00
Na quarta-feira 30, quando os relógios registravam 15h15m, o presidente da CPI do Banestado, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), pediu aos seguranças que retirassem da sala de audiência todas as pessoas que não fossem membros da comissão, para iniciar uma das mais longas sessões secretas da história do Congresso. Minutos antes, o perito da Polícia Federal Renato Barbosa, que investiga o megaescândalo do Banestado há sete anos, e o procurador Luiz Francisco de Souza regressaram à sala com uma
volumosa caixa de plástico. Dentro estavam os laudos periciais feitos
pela PF e a relação mais esperada desde que a CPI começou a funcionar, há 45 dias: o rol de políticos que usaram o Banestado para remeter dinheiro para o Exterior.
Na sessão secreta, Barbosa explicou didaticamente como foi feito o levantamento e, depois, o trabalho para cruzar os nomes que desfilaram pelo Banestado com políticos, empresários e servidores públicos. “Foi o melhor depoimento na CPI”, avaliou o relator José Mentor (PT-SP).“Ele
s foi técnico e consistente”, concordou Antero. O trabalho dos peritos registrou mais de três centenas de coincidências entre nomes de figuras da República. A PF ressaltou que pode haver homônimos. Os mais famosos que irão passar pelo pente fino da CPI – já revelados por ISTOÉ – são o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, com uma remessa de US$ 16 mil, o deputado distrital em Brasília Wigberto Tartuce, que mandou para fora US$ 91,2 mil. Outros nomes, que também estão na lupa da PF, serão entregues nesta terça-feira à comissão, entre eles brilha o de um ex-governador da região Sul.
Na lista entregue à CPI, estão líderes políticos regionais de 13 Estados. Um exemplo é o deputado estadual Carlos Ricardo Gaban, presidente da Assembléia Legislativa da Bahia. Ele aparece em duas operações enviando para fora US$ 120 mil em outubro e novembro de 1996. Um outro político que aparece na lista é Mário Calixto Filho (PMDB-RO), com quatro remessas, que totalizam US$ 585 mil. Calixto surge como titular da conta número 230084001, aberta no Banco Real de Miami. Ele é empresário de comunicação e, segundo a PF, é o primeiro suplente do atual líder do governo no Congresso, senador Amir Lando (PMDB-RO). Seu conterrâneo, Antônio Adelino Gurgel do Amaral, foi suplente do então senador Odacir Soares. O cruzamento da PF demonstra que Gurgel recebeu pelo menos R$ 40 mil em 1997 no Bankers Coral GBLS.
A papelada mostra ainda que os dois políticos de Rondônia enviaram a grana por intermédio da BCF International, uma offshore com conta no Banestado e sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens. A BCF era uma cliente vip do Banestado de Nova York. A empresa pertence a um grupo de doleiros de Manaus e movimentou em dois anos a bagatela de US$ 660 milhões. Por meio dessa offshore, Jaime Célio Dacier Lobato, candidato a deputado estadual em 1994, mandava recursos para a sua conta Barnett Jax em Miami. Esse mesmo duto também teria sido utilizado por Marco Aurélio Bolognese, ex-diretor financeiro do Incra do Amazonas, para enviar, no biênio 1996/1997, US$ 218.420 para sua conta número 2202231175 no Amer Bank, de Hollywood, nos EUA. Um detalhe importante: o dinheiro foi enviado pela empreiteira DC-10, contratada pelo Incra para construir estradas entre 1996 e 1998, quando Bolognese trabalhava nessa repartição pública. A lista também reforça a tese da PF de que Alberto Yussef, doleiro de Londrina, se especializou em lavar dinheiro de políticos paranaenses. Candidato a deputado federal pelo PFL, Farage Kouri utilizou a famosa conta June, aberta pelo doleiro no Banestado, para enviar US$ 120 mil para o Banco Áudio, em Miami.
A sessão, que acabou com o suspense dos políticos sob investigação, deixou os nervos do senador Bornhausen à flor da pele. O procurador Luiz Francisco sugeriu a convocação do presidente do PFL para explicar as operações financeiras do Banco Araucária, de propriedade da cunhada do senador. Os dois discutiram e o bate-boca só foi encerrado com a suspensão dos depoimentos. Esses nomes se somam aos dos outros políticos que já estão sendo investigados pela CPI, como Paulo Maluf e Ricardo Sérgio. “Agora devemos ir aos EUA em agosto, para pedir os documentos e começar a investigar do maior ladrão para o menor ladrão”, concluiu o presidente Antero Paes de Barros.