O narcoturismo

O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, cunhou uma nova expressão durante entrevista a uma rádio nesta semana: o narcoturismo. “Temos que acabar com o narcoturismo no País”, disse Bornhausen. Falava das viagens do bandido Fernandinho Beira-Mar pelo país em busca de um presídio seguro. Era mais uma estocada oposicionista. Mas ser governo deveria ser também ouvir as críticas com a cabeça aberta. O “passeio” do narcotraficante por diversos Estados já começa a se transformar numa perigosa galhofa. Em Alagoas, por exemplo, foram descobertas duas casas alugadas por nove integrantes do Comando Vermelho com croquis da prisão de Fernandinho. Provavelmente, por onde viaja o traficante, viajam também seus comparsas. Quanto mais tempo o governo demorar para resolver o problema, mais encrenca estará semeando Brasil afora. Pior. Estará dando uma demonstração de incapacidade de resolver o problema do banditismo, quase tão candente quanto o da fome. E isso inevitavelmente acabará atingindo a popularidade do presidente.
 

Alcatraz brasileira 1

Ex-secretário Nacional Antidrogas e presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais, o juiz Wálter Fanganiello Maierovitch acha que o governo deveria se mirar no exemplo italiano. Isolaram mafiosos perigosos em ilhas perto da Sardenha e de Piemonte, onde os detentos só tinham contato com advogados através de vidro e com juízes por videoconferência. Nesses locais, visita só uma vez por mês, toda a correspondência é aberta e livros e revistas são censurados. Existem hoje 313 presos cumprindo pena na Itália nessas condições.

Alcatraz brasileira 2

Nilmário Miranda, secretário Nacional de Direitos Humanos, teme que, em nome do combate ao crime, o País enverede pela ditadura: “Não podemos criar uma Guantanamo (base militar americana em Cuba), nem repetir a escalada de violência de Fujimori (presidente peruano afastado por corrupção), que em nome do combate ao terrorismo liquidou com os direitos humanos. Um governo bem intencionado pode até reduzir direitos civis para combater o terror, mas depois vem um governo inescrupuloso que usa os mesmos instrumentos contra a oposição”.

Traição à vista

O vice-governador do Rio, Luiz Paulo Conde, quer ser candidato a prefeito em 2004. Mas a governadora Rosinha Garotinho já escalou seu marido para conversas com o atual prefeito César Maia, arquiinimigo de Conde. Na conversa com Garotinho, César Maia só pediu uma coisa: o apoio do casal Garotinho para sua candidatura à reeleição.

PMDB maltratado

O líder do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira, anda tiririca com o ministro-chefe da Casa Civil. Eunício é um homem tímido, não deve abrir guerra publicamente. Até porque seu partido não é lá essas coisas. Mas ele não gostou nem um pouco das declarações de Dirceu de que o governo venceu a votação do artigo 192 da Constituição (o que trata do sistema financeiro) graças ao PSDB e ao PFL. Da bancada de 70 deputados do PMDB, 60 votaram com o governo. Um índice de 84% de apoio ao governo, nunca alcançado pelo PMDB na administração FHC.

Rápidas

• Magno Malta, mais uma vez, cumpriu à risca o acordo do seu PL com ACM: retirou-se da Comissão de Ética na hora da votação dos requerimentos para ajudar os carlistas.

• Sentindo-se traído por Ciro Gomes, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) resolveu dar o troco: agora só dá atenção para a ex-mulher de Ciro, Patrícia Gomes (PPS-CE).

• O primeiro-secretário da Câmara, Geddel Vieira Lima, cancelou um café-da-manhã do presidente da Casa, João Paulo, com líderes partidários. Não liberou a grana.

• O deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) defende que seu partido vá para a oposição. Mas está quase ganhando do governo o direito de indicar um diretor na Petrobras.