A idéia pode parecer absurda e provocar arrepios nos mais sensíveis. Uma experiência conduzida na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, mostra que aplicar injeções de toxina botulínica – conhecida como Botox – diretamente na próstata é uma maneira eficaz de tratar um mal chamado hiperplasia benigna. O problema consiste no aumento do tamanho da glândula e ocorre em cerca de 70% dos homens a partir dos 40 anos. Em grande parte dos casos, o fenômeno não leva a nenhum desconforto. Mas, para uma parcela dos atingidos, o distúrbio causa uma imensa dificuldade para esvaziar a bexiga, provocando sintomas como a necessidade freqüente de urinar. Isso porque a próstata envolve a uretra, o canal por onde passa a urina, e dependendo de seu volume pode prejudicar ou obstruir esse caminho.

Há algum tempo os cientistas pesquisam o uso da toxina botulínica contra o problema. A lógica é simples. Conhecido por sua capacidade de amenizar rugas
de expressão, o produto atua relaxando a musculatura, o que garante o efeito de
pele lisa. Aplicado na próstata, sua ação é basicamente a mesma. Ele promove
o relaxamento da glândula, aliviando a pressão exercida sobre a uretra. E além
disso também induz à morte de células da glândula. “Isso contribui ainda mais
para reduzir o tamanho da próstata”, disse a ISTOÉ Michael Chancellor,
coordenador do trabalho.

O experimento envolveu 41 homens com idades entre 49 e 79 anos. Todos manifestavam sintomas e não respondiam aos remédios e cirurgias. Foi usado o próprio Botox (há outras marcas de toxina botulínica no mercado). Os médicos utilizaram o ultra-som para auxiliar na localização da glândula. Em seguida, o instrumento para a aplicação da injeção foi introduzido pelo reto até chegar à próstata. Foram administradas uma ou duas injeções, dependendo do tamanho da glândula. Apenas 20 dos pacientes receberam sedação. De acordo com Chancellor, o procedimento não causa dor.

Um ano depois, muitos dos pacientes ainda relatavam melhora nos sintomas. Entre os especialistas, a pesquisa gerou boas impressões. “É mais uma opção. O método poderia ser útil a pacientes que não se deram bem com os remédios”, afirma o urologista Erick Wroclawsky, secretário-geral da Confederação Americana de Urologia. É esperar para ver.