Eles chegaram de mansinho e de repente dominaram as prateleiras das livrarias, multiplicando-se como coelhos e vendendo como Paulo Coelho. São os chamados livros-presente ou motivacionais, a meio caminho entre as fotofofocas – imagens às quais se acrescentam balões com piadinhas – e as séries do tipo Amar é…, os desenhos sublinhados por frases que se pretendem profundas, mas não passam de obviedades. A editora carioca Sextante, na figura de seus donos, os irmãos Marcos e Tomás Pereira, lançou a moda quase por acaso. Em outubro de 2000, enquanto aguardavam uma reunião entre as tantas que tinham agendadas na Feira de Frankfurt, eles receberam do anfitrião um livrinho simpático, que folhearam em cinco minutos. Tratava-se do The blue day book, de Bradley Trevor Greive, um publicitário de 32 anos nascido na Tasmânia e radicado na Austrália, que bolou a fórmula mágica: graciosas fotos de animais compradas de agências especializadas e de bancos de imagens, legendas com muito bom humor e unidas num só livro.

Animados, os irmãos traduziram a obra de Greive, dotando-a de uma nova capa e formato um pouco maior. Num lance de ousadia, o rebatizado Um dia daqueles (108 págs., R$ 19,90) foi lançado em março de 2001 com uma tiragem de 20 mil exemplares. Hoje, somada à de Querida mamãe, obrigado por tudo (74 págs., R$ 19,90), sua vendagem já atingiu as 800 mil cópias. Sem perder tempo, a editora acaba de lançar, na mesmíssima linha, O sentido da vida (144 págs., R$ 19,90), com tiragem inicial de 120 mil exemplares, e promete para setembro Em busca do príncipe encantado, todos de autoria de Greive, que em agosto desembarca no Brasil, carregando a cifra de cinco milhões de livros vendidos em todo o mundo. Para o editor Marcelo Duarte, da paulistana Original, tais livrinhos substituem com vantagem os CDs e os cartões-postais na hora da escolha da “lembrancinha”. Seguindo a fórmula de Greive, ele contabiliza 60 mil cópias de seus três lançamentos: Viva feliz (72 págs., R$ 17,90), uma criação coletiva, Eu te amo (72 págs., R$ 19,90) e Vovó – mamãe com açúcar (60 págs., R$ 17,90), com textos de Gabriela Nascimento Spada. Todos trazendo fotos de crianças ou de adultos – e até de bichinhos, por que não – acompanhadas de legendas espirituosas.

E tem mais. Cheguei, e agora me ouça (Instituto de Qualidade, 101 págs., R$ 18,90) coletou fotos de crianças tiradas por Macarena Lobos com frases sobre educação criadas por seu pai, o consultor de empresas de origem chilena Julio Lobos. O que é o amor, da fotógrafa nova-iorquina Laura Strauss (Record, 64 págs., R$ 15), emoldura flagrantes inocentes de casais com palavras como “segurança”, “honesto”, “carinho”. Com 15 mil exemplares vendidos, a editora lança em setembro O homem ideal, de Dean e Merrill Buckhorn, que tem como diferencial imagens de objetos inanimados. A melhor solução encontrada, no entanto, foi a do igualmente nova-iorquino, fotógrafo e ex-ator Jim Dratfield em Um dia de cão (Bertrand Brasil, 116 págs., R$ 19,90). Reúne charmosos retratos de cães, que costuma publicar em revistas e jornais prestigiados, cercados de citações de gente célebre do tipo: “Não estou acima do peso, sou apenas uns cinquenta centímetros mais baixa do que deveria”, brincadeira da atriz Shelly Winters, que ilustra a foto de um rechonchudo e peludo cãozinho preto. Já vendeu 40 mil exemplares no Brasil. Dratfield só se esqueceu de incluir a frase apócrifa “Uma imagem vale mais que mil palavras”. Poderia garantir aos livros-presente algum status de minienciclopédias. “Há gosto para tudo”, seria a outra.