Diante da derrota, há dois caminhos para o vencido: o reconhecimento ou o ressentimento. Passados mais de doze dias desde o resultado das urnas, o atual presidente continua demonstrando que não sabe jogar o jogo democrático. Não admitiu a derrota, e seu silêncio sobre o resultado das urnas continua dando margem para todo tipo de obscenidade política, desde o bloqueio de rodovias a atos golpistas pedindo a intervenção das forças armadas e a dissolução do STF e do TSE.

A derrota de Bolsonaro também foi estopim para uma série de ataques racistas e xenofóbicos contra nordestinos. A reação não é de todo inédita. Quando da reeleição de Dilma Rousseff em 2010, nordestinos foram alvos de eleitores derrotados que atribuíram ao Nordeste a vitória da petista. “Faça um favor ao Brasil. Mate um nordestino afogado”, conclamava, nas redes sociais, uma estudante paulista, mais tarde condenada por incitação à violência.

Doze anos depois, os ataques se repetem, mas a virulência é inédita. Se antes, sentimentos mesquinhos como a xenofobia, se restringiam à mente do infame ou no máximo a seu seleto cercadinho, hoje eles ganham voz e ecoam sem vergonha por todo País, defendendo o inominável. Num artigo publicado em um de seus veículos de comunicação, o prefeito de Betim deu voz ao preconceito e vomitou ignorância ao pregar a separação do Brasil em dois. No texto, o político afirma que, diferente de outras regiões, o Nordeste não produz, não gera riquezas e vive de “transferências”. Como um lunático rei Salomão, o prefeito sugeriu dividir o País em dois torrões para evitar uma possível guerra civil, dando “a Lula o que é de Lula e a Bolsonaro o que é de Bolsonaro”.

Passados mais de doze dias desde o resultado das urnas, Bolsonaro continua demonstrando que não sabe jogar o jogo democrático

A separação do Brasil não é só uma impossibilidade legal, uma vez que a Constituição, em seu artigo primeiro afirma: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de Direito”. Não há, tampouco, interesses políticos ou econômicos para um contraproducente “Brexit” regional.

Historicamente, nenhum movimento separatista vingou; nem a Revolução Farroupilha, nem a Revolta Paulista ou a Inconfidência Mineira. O tempo e o bom senso provaram que não há dois Brasis. Há, sim, múltiplas culturas, diversas vocações, há climas e sotaques diferentes, há no Brasil uma diversidade única que nos faz ser quem somos: uma grande nação. Por mais que uns poucos queiram, não há como negar nossas origens. Somos, todos, de norte a sul, para o bem e para o mal, brasileiros.