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A sensação é pavorosa. Você tenta desesperadamente parar de cair em queda livre ou escapar de alguém que o está perseguindo, mas não consegue. Permanece naquela situação angustiante, que parece não ter fim. Quando finalmente acorda, senta-se na cama suado, com o coração batendo acelerado, e perde o sono de vez. Foi mais um pesadelo. Para muita gente, episódios como esse ocorrem em uma frequência extremamente preocupante. Especialistas em medicina do sono estimam que 25% dos adultos tenham um desses sonhos uma vez por mês e 6% sofram com eles uma ou mais vezes por semana. O resultado é que esses indivíduos acabam ficando com sua qualidade de vida prejudicada pela insônia que quase sempre sucede ao pesadelo e muitas vezes desenvolvem o medo de dormir porque temem ter mais sonhos aterrorizantes.

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Preocupados com o impacto dos pesadelos no cotidiano, os médicos estão procurando ampliar o leque de recursos contra o problema. Hoje, uma das opções que ganham força entre os especialistas é a chamada terapia de imagem reversa. Trata-se de uma técnica que consiste em fazer com que o paciente enxergue o pesadelo de outra maneira, menos assustadora, e dê a ele um outro significado. É o oposto do que preconiza a abordagem mais antiga, baseada na discussão profunda e detalhada dos sonhos, numa busca por razões psicológicas que possam estar por trás dos episódios. “Percebemos que, em muitos casos, quanto mais se fala do assunto, mais se firma a imagem negativa e apavorante”, explicou à ISTOÉ a pesquisadora Shelby Harris, do Departamento de Neurologia e Psiquiatria do Albert Einstein College of Medicine, nos Estados Unidos.

Por isso, o que os especialistas propõem é que, durante a terapia, o paciente mencione o pesadelo apenas uma vez. “Depois, ele deve reescrever o roteiro do sonho”, disse Shelby. Esta transformação é feita com um treinamento adequado.

O paciente é orientado a praticar técnicas de visualização esmerando-se nos detalhes: ele deve se imaginar numa praia ou saboreando um hambúrguer, por exemplo, mas enxergando na mente as cores, o lugar. Tudo para limpar o cérebro do teor e da sensação ruim deixados pelo sonho. Em seguida, o indivíduo é convidado a mudar a história do próprio pesadelo, tornando- o muito mais leve e inofensivo.

Segundo a pesquisadora americana, a chave para que a estratégia dê certo é o treino diário da visualização e da mentalização do pesadelo inteiramente modificado. “Este treino pode mesmo mudar o que acontece à noite, durante o sono.”
Em geral, são necessárias de três a quatro sessões para que o paciente aprenda a técnica. De acordo com os resultados obtidos, cerca de 70% das pessoas manifestam melhora. Isso pode ser desde o fim dos sonhos ruins – ou a diminuição significativa da frequência com que eles acontecem – até o desenvolvimento da habilidade de mudar o pesadelo quando ele está acontecendo. Na opinião do especialista Barry Krakow, diretor do Sleep & Human Health Institute, também nos Estados Unidos, o método tem eficácia porque responde a um anseio dos pacientes. “Eles querem transformar os pesadelos em algo sob controle”, disse à ISTOÉ.

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Na avaliação dos especialistas, outra razão para o sucesso da técnica – disponível no Brasil – reside no fato de o treinamento quebrar um ciclo negativo no qual o paciente pode ter se envolvido. “Em muitos casos, os pesadelos acontecem porque o cérebro se acostumou a um padrão em que os sonhos são sempre ruins”, explicou Shelby. Com a terapia reversa, é como se o cérebro apagasse o padrão antigo e o substituísse por um novo, em que os sonhos são realmente sonhos.

fotos: Andy Bullock/Getty Images; Julia Moraes/Ag istoé; Marcia Tavares/Ag istoé