Famoso por suas gafes, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, anda abusando do direito de cometê-las. Os seus assessores já declararam publicamente que ele está mais tenso desde que as pesquisas passaram a apontar a vitória da oposição de centro-esquerda nas eleições parlamentares de abril. E é sabido que Berlusconi, quanto mais nervoso fica, mais se coloca em situações constrangedoras. A mais recente delas se deu com a jornalista italiana Lucia Annunziata, da rede estatal RAI-3. Ela indagou-lhe justamente sobre as pesquisas e sobre as críticas dos empresários à sua política econômica. Ele disparou: “A senhora tem preconceito contra a minha pessoa e, por isso, eu vou embora. A senhora deveria ter um pouco de vergonha. E ainda tem gente que diz que a RAI é controlada por mim.” Essa saia-justa ocorreu aos 20 minutos do programa In mezz’ora (Em meia hora). E Berlusconi saiu abruptamente de cena. Dessa vez ele foi, no mínimo, deseducado, mas às vezes as mancadas de Berlusconi beiram o mau gosto. Também recentemente, ele declarou que era “o Jesus Cristo da política, que agüenta tudo e se sacrifica por todos”. Mais: já se comparou ao imperador francês Napoleão Bonaparte, o que, convenhamos, foi uma evolução para quem já elogiou publicamente o fascista Benito Mussolini. Mas a mancada mais sensacional ocorreu em janeiro, na Sardenha, quando Berlusconi, 69 anos, prometeu a um padre muito popular da tevê local que se absteria de sexo até as eleições.

Berlusconi tem motivos de sobra para andar tenso. Eleito em 2001 à frente da coalizão Casa das Liberdades, um saco de gatos de direita que inclui neoliberais, neofascistas e racistas, ele está fechando o seu mandato com uma Itália economicamente estagnada. E o seu governo patina nas denúncias de corrupção e de abuso de poder. Em 2005, o PIB da Itália não cresceu absolutamente nada. Em 2004, houve o crescimento pífio de 1,1%. No mês passado, o Ministério Público de Milão o acusou de ter pago US$ 600 mil ao advogado britânico David Mills para que ele testemunhasse a seu favor em processo de corrupção. É nesse ambiente que ganham força as acusações, já antigas, de que Berlusconi criou uma espécie de “ditadura midiática” na Itália, na medida em que é dono das três mais importantes redes privadas de tevê. E, como primeiro-ministro, também influencia a programação da rede estatal RAI. Ao que tudo indica, o seu nervosismo, o seu destempero e os seus “foras” vão continuar.