12/10/2005 - 10:00
A alegria de alcançar um objetivo, a necessidade de um planejamento detalhado, o desenvolvimento do espírito de equipe e a capacidade de adaptação. Essas são as principais lições que alguns empresários levaram da XVII Regata Oceânica Internacional Recife–Fernando de Noronha (Refeno). Ao enfrentar ventos de até 27 nós (50 km/h) e as 300 milhas de mar que separam a capital de Pernambuco do arquipélago mais famoso do País, os tripulantes do veleiro Horizonte Azul esqueceram o cotidiano de suas empresas, se desligaram dos 300 e-mails diários, deram adeus ao poluído ar de São Paulo e se entregaram às forças da natureza e à capacidade de lidar com o vento e o mar em busca de um objetivo comum. “Fazer a Refeno é uma grande ousadia para executivos. Enfrentar o mar aberto, manter o rumo, sem rasgar as velas, e, pior, conviver por três dias em um espaço tão reduzido como o de um veleiro, sem demitir, expulsar ou beijar alguém é o maior desafio harmônico que já vivi”, comenta o empresário Vicente Fiúza, 56. Entre as 19 e 72 horas que separaram o primeiro colocado, o catamarã Adrenalina Pura, do último, o Bruce Robert – Ospray of Boston, a chegar à ilha, pouco mais de 600 médicos, dentistas, advogados, nutricionistas e donas-de-casa se jogaram de cabeça em seus sonhos de superação e conquistas.
A largada, em 24 de setembro no Recife, dos 94 veleiros de cinco países e 13 Estados brasileiros foi um espetáculo acompanhado por mais de dez mil pessoas. Com o passar das milhas náuticas, a competição expõe a força e a fragilidade de cada participante. Apenas 86 barcos chegaram ao final da competição. As duas histórias mais marcantes foram a do trimarã Ave Rara e a do catamarã Ryan Jean. O primeiro teve problemas com a vela-mestra quando estava em segundo lugar, logo atrás do Adrenalina Pura. Não desistiu. Optou por arribar para João Pessoa (PB) e fazer o conserto. A operação levou seis horas, mas ainda assim o barco chegou em quarto lugar geral e foi o campeão em sua categoria (Multicasco C). “O eixo de comando do leme também quebrou, mas improvisamos e conseguimos chegar”, comemora Gustavo Ribeiro Peixoto, 31 anos, comandante do trimarã.
A mesma sorte não teve o velejador francês Didier Jean, 65. Já na noite da largada, o catamarã Ryan Jean, comandado por ele, começou a apresentar problemas. O primeiro foi um pequeno rasgo na vela, depois a quebra do suporte do motor e do leme e uma pane elétrica. Na segunda noite o barco começou a “fazer água”. “Tirei mais de 150 caixas de água de dentro da embarcação”, lembra o velejador. Sem condições de navegar, o francês, sua mulher, Marina Jean, 30 anos, seu filho Ryan, quatro, que dá nome ao barco, e um amigo da família ficaram à deriva por horas e acabaram resgatados, três dias após a largada, pelo veleiro Yacaré, do comandante Carlos Marrocos, 51 anos.
Apesar dos contratempos, a prova agrega atletas de todas as idades. O marinheiro mais novo tinha apenas um ano e três meses e o mais velho, 78. Para todos, o maior perigo pode ser o estômago fraco. “Achei que fosse morrer. Já não tinha mais o que botar para fora, mas foi só ver a ilha para esquecer tudo. Noronha é linda”, diz o médico Maurício Sérgio Cavalcante, 36 anos, do veleiro Venestal IV.
Após a chegada à ilha, o clima de festa contamina comunidade e velejadores. A ordem é passear pelas praias, andar a cavalo e mergulhar, na expectativa de ver arraias, tartarugas e golfinhos. Com uma visibilidade submarina que chega a 42 metros, o arquipélago é um dos melhores pontos de mergulho do mundo. Ao final de cinco dias, o circo náutico na ilha é suspenso e, com as velas abertas, os competidores rumam em novos cruzeiros e regatas que vão para João Pessoa, Recife (PE), Natal (RN) e Salvador (BA). A 1ª Regata Noronha–João Pessoa, realizada em 30 de setembro, atraiu 50% dos velejadores que participaram da Refeno. Com isso, a festa mais charmosa da vela oceânica brasileira ganha mais tempo e empolgação. “São quase 15 dias de alegria, aventura e superação. Isso é fantástico”, diz o médico e velejador Fábio Tozzi.