01/10/2003 - 10:00
Eles não abrem mão de uma boa partida de tranca, buraco ou paciência. Em casa, no clube ou em reuniões de amigos, a preferência pelo jogo de cartas é quase unânime. Agora esses animados jogadores terão mais um motivo para usufruir do passatempo. Trata-se do Cartas na Mesa, um jogo educativo que estimula a discussão de temas como sexualidade, qualidade de vida, afetividade e saúde entre os idosos. Criado pelo Instituto Kaplan, uma organização não-governamental especializada em estudos sobre a sexualidade humana, o trabalho foi feito em parceria com a Pfizer, com o objetivo de preparar e informar as pessoas para uma das fases mais importantes da vida. “Nosso grande desafio é reverter a forma preconceituosa e reduzida com que a sexualidade é tratada nessa fase da vida”, esclarece Maria Helena Vilela, coordenadora do instituto. Cartas na Mesa, que ainda traz o livro A quinta estação, de autoria da psicóloga Martha Dias Murano, é distribuído em instituições ligadas ao Núcleo de Idosos do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo e está sendo vendido no Instituto Kaplan (tel. 11 3676-0777) por R$ 75.
Na prática, as cartas do jogo se parecem com as do baralho. O que muda são os naipes. Em vez dos símbolos de copas, ouro, espada e paus, as cartas são ilustradas com palavras, temas, letras e dicas estratégicas que ajudarão a movimentar o jogo. Em um tabuleiro, as cartas-tema determinam o assunto – sexualidade, afetividade, saúde e qualidade de vida – que será discutido durante a partida. A escolha do assunto fica a critério do grupo. As cartas-palavra trazem conceitos relativos ao tema escolhido e irão conduzir o jogo. “Se o assunto for sexualidade, os jogadores irão comprar cartas-letra para formar canastras com palavras ligadas ao tema. Por exemplo, disfunção erétil. Enquanto o jogador não tiver em mãos todas as letras que compõem essa palavra, a partida não acaba”, explica a psicóloga Áurea Ribas Giaquinto, gerente do projeto.
À primeira vista parece complicado, mas nada que um bom jogador de buraco não tire de letra. Isso porque, à medida que o jogo começa, os critérios vão sendo dominados com facilidade. Pelo menos é o que o grupo De bem com a vida, da paróquia São Mateus, localizada na zona oeste de São Paulo, acha. Lá, os 70 idosos estão apenas começando a conhecer o Cartas na Mesa, mas a expectativa é grande. “Acredito que muita coisa boa vai acontecer por aqui. Isso nos ajudará a discutir problemas dos quais não temos o hábito de falar”, avalia a professora aposentada Wayne Terezinha Rodrigues, 66 anos, coordenadora do grupo. José Rosa, 76, um de seus parceiros no aprendizado, completa: “O melhor é que vai ser de um jeito bem divertido, jogando”, diz.
Buscar no lazer uma forma para abordar assuntos pouco discutidos ou tidos como tabus foi a maneira encontrada pelos psicólogos, educadores e médicos, responsáveis pela produção do Cartas na Mesa, para atrair a curiosidade dos idosos. “É um instrumento facilitador de transmissão de informações, que os levará a adotar novos conceitos de vida e a ampliar os relacionamentos afetivos. A dinâmica do jogo também estimula funções cognitivas como a memória, a atenção e a concentração”, esclarece ainda Maria Helena, do Kaplan. Pelo jeito, não vai faltar assunto para a prosa, que poderá ir além da mesa de jogo.