Pokémon, Chaves, Power Rangers, filmes e uma maratona de novelas. À primeira vista, a relação parece uma simples lista dos programas preferidos da garotada. O entretenimento propiciado pela tevê, entretanto, pode ser prejudicial a meninos e meninas, principalmente nas férias, quando eles costumam passar o dia inteiro em casa. Pesquisa recente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) descobriu que quanto mais horas as crianças ficam grudadas na telinha, maior o excesso de gordurinhas. Foram ouvidos 2.500 estudantes de escolas públicas, com idades entre sete e dez anos, para chegar a esse resultado.

Os pesquisadores verificaram que as chances de uma criança ganhar quilos demais aumentam em 88% se ela passar mais de quatro horas diárias na frente da tevê. Essa dedicação compromete a prática de atividades lúdicas e esportivas. “Os pequenos ficam inativos e são bombardeados com propagandas de alimentos, o que estimula a fome. Eles podem se tornar adultos obesos e, assim, estarão mais expostos a perigos como hipertensão e problemas cardiovasculares”, explica a nutricionista Isabela Ribeiro. No caso de famílias carentes, esse tipo de bombardeio provoca grandes estragos. A especialista diz que a população de baixa renda sofre com a falta de informação a respeito de como controlar o peso e, por isso, fica mais exposta ao problema. “Para resolver o problema, a educação é a saída”, garante Isabela.

A supervisora de vendas Silvana Renzo é a prova disso. Ela foi alertada sobre o excesso de peso da filha Gabriela, oito anos, pela equipe do projeto Redução dos Riscos de Adoecer e Morrer na Maturidade (RRAMM), da Unifesp. Psicólogos, especialistas em educação física e nutricionistas participam desse programa, destinado à rede pública de ensino, para dar dicas de como prevenir a obesidade e lidar com crianças que estão com quilos a mais. O grupo esteve na escola de Gabriela e conversou com a mãe da menina. Silvana descobriu que a filha estava com nível alto de colesterol. Ela matriculou Gabriela na natação e mudou os hábitos alimentares da família, enriquecendo a dieta com frutas e vegetais. “A gente até sabe o que é saudável, mas acaba deixando a preocupação de lado”, diz.

Para a nutricionista Clarissa Magalhães, outra integrante do projeto RRAMM, os maus hábitos alimentares dos americanos – caso dos lanches rápidos – influenciam a dieta do brasileiro, contribuindo para o aumento da obesidade no País. “Falta orientação a respeito de quanto se pode consumir de alimento semipronto, por exemplo”, critica Clarissa. A ligação entre a tevê e a qualidade da alimentação é cada vez mais clara nos Estados Unidos. Pesquisa da Universidade Tufts (Washington), divulgada na semana passada, revelou que as crianças que comem enquanto assistem à tevê desenvolvem hábitos nada saudáveis. Elas se empanturram de carne vermelha, salgadinhos e pizza e consomem menos frutas e vegetais. O trabalho avaliou 91 famílias e constatou que quase metade desses lares tinha um aparelho de tevê ligado durante duas ou três refeições.

Educação – O estudo americano não fala exatamente de obesidade, mas esse é um risco para aqueles que não seguem uma dieta equilibrada. O problema pode aparecer desde os seis meses de idade, quando as mães superalimentam os filhos. Entre os sete e os dez anos, entretanto, é que está o perigo. É nessa fase que a criança forma seus hábitos. Antes disso, em geral, ela come o que a família come. A partir daí, a garotada começa a selecionar mais seu cardápio. E também passa a frequentar a cantina escolar. “Essa é a melhor hora para educar as crianças”, afirma Isabela. Nas escolas, ela ensina aos estudantes como se faz uma refeição saudável. Para isso, existe uma pirâmide alimentar infantil, com dicas de porções (leia o quadro ao lado).

O projeto da Unifesp também ressalta a importância do esporte. Nas escolas, ensina os professores como a aula de educação física pode ser também uma lição de saúde. A coordenadora pedagógica Sebastiana de Sousa, da escola Professor Calixto de Sousa Aranha, elogia o trabalho. “Temos alunos com sobrepeso e subnutridos. A orientação serve para os dois casos. Eles preparam saladas de fruta, fazem caminhadas e praticam esporte. E depois levam isso para as famílias.” Renato de Castro, dez anos, por exemplo, mostrou aos pais como agora dá importância à prática esportiva. “Antes, meu filho era muito ligado em tevê e videogame. Hoje, brinca mais com as crianças do condomínio onde moramos”, conta o professor Rubens de Castro, pai de Renato, satisfeito com a nova fase do garoto. O estudante demonstrou que aprendeu direitinho a lição de saúde.