O feirão de cargos públicos está acontecendo a céu aberto, às claras e sem qualquer constrangimento. O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, deu a senha para o loteamento a granel de postos estratégicos na engrenagem oficial: quem ajudar o Governo vai levar. “É evidente que quem vota e quem sustenta o Governo tem prioridade nas indicações”, decretou. A prática do fisiologismo escrachado – que não é nova, diga-se de passagem! – vai ganhando contornos de esquema generalizado para garantir a governabilidade perdida. Os idealizadores petistas chamam o “toma lá, dá cá” de “presidencialismo de coalizão”, mas o eufemismo não esconde a evidência de que esses acordos partidários são alinhavados não em torno de bases programáticas ou por identificação ideológica. Impera aqui o mais puro e vil escambo de nomeações. Com apetite insaciável para aparelhar o Estado, as agremiações descem à surrada prática da chantagem. E o Governo concede sem resistência. Fraco, despreparado e completamente perdido na condução do País, ele usa o recurso como última arma. E tem bastante munição para tanto. De saída, ao menos 100 cargos de segundo escalão em 10 autarquias já entraram na barganha. Os números totais ainda não estão fechados, mas a ordem do Planalto é atender a todos aqueles que se mostrem dispostos a apoiar Dilma. Nas esferas Federal e estaduais –e neste universo serão incluídas inúmeras vagas em empresas estatais – a distribuição pode ultrapassar 200 postos estratégicos. Na lista também serão lançadas 20 diretorias das agências reguladoras, que antes estavam fora de qualquer negociação pelo risco de dirigismo político nas decisões dos escolhidos. A regra não vale mais. É a hora da xepa! Mesmo as siglas nanicas são contempladas. E o presidente do Senado, Renan Calheiros, que parece ter passado por uma repentina conversão de valores sem precedentes, se sente à vontade até para pontificar sobre o assunto. Em encontro com Lula, durante almoço no Planalto na última quinta-feira, 14, chegou a dizer com todas as letras que a aliança com o PMDB “não pode ficar em cima da mera ocupação de cargos”. Certamente ele quer mais. Nos planos inconfessáveis do senador incluem-se a fritura de Dilma em fogo brando e, quiçá, a ida para o seu lugar em um futuro não muito distante.