05/02/2021 - 9:30
Antiga Birmânia e localizado no Sudeste Asiático, Mianmar sofreu na semana passada um golpe de Estado promovido pelas Forças Armadas do país. Foram presos o presidente Win Myint e a líder governista e Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi (quem de fato mandava no governo). Encerrou-se, assim, o ciclo de poder compartilhado por civis e militares, promovido pela própria Suu Kyi (encarcerada em local não revelado). Os militares alegam, porque precisam alegar alguma coisa que justifique a quartelada, ainda que seja mentira, que houve fraude nas eleições parlamentares do final do ano passado: o partido de Suu Kyi (Liga Nacional pela Democracia) ficou com trezentas e noventa e seis das quatrocentas e setenta e seis cadeiras — Mianmar é o único país que reserva a militares assentos no Parlamento. O golpe aconteceu na madrugada da segunda-feira 1, quando da abertura dos trabalhos legislativos. O presidente dos EUA, Joe Biden, manifestou-se pedindo às nações democráticas que pressionem as Forças Armadas birmanesas a devolverem o poder aos líderes civis. Juntas militares já governaram autoritariamente o país por aproximadamente meio século. Mesmo agora, antes do golpe, o que se vivia em Mianmar era uma frágil democracia — só permitida pelas Forças Armadas porque Suu Kyi conseguiu alocá-las no poder para tirar a população, pelo menos por um tempo, de uma eterna ditadura e de um eterno arbítrio. Foi uma Chapeuzinho Vermelho acreditando que dava para morar com o lobo. Virou banquete.
Para o Itamaraty, tudo são flores
Em nota diplomática, o Itamaraty não está chamando de golpe o golpe militar em Mianmar. E não fez sequer menção aos presos políticos.
Banda U2 rompe com a Nobel da Paz

A Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi (ganhou a láurea em 1991) deixou de ser aplaudida por unanimidade pela comunidade internacional após 2015. Pode-se dizer que, nesse momento, a batalhadora pela paz tornou-se uma mera política. Ainda que ela precisasse usar seu prestígio para tentar pacificar o país, suas posições de apoio aos militares em diversas ocasiões maculou-lhe a boa imagem. Em 2019, por exemplo, ela assumiu a defesa das Forças Armadas que estavam sendo acusadas de genocídio. A banda U2, liderado por Bono Vox (foto), que chegou a compor uma música em sua homenagem, na semana passada publicou uma educada carta retirando-lhe o seu apoio.
JUSTIÇA
Saudáveis recados de Luiz Fux

Recado mais direto impossível: do presidente do Supremo Tribunal Federal para o presidente da República. Na cerimônia de abertura dos trabalhos do Judiciário, em 2021, Luiz Fux falou que a vacinação contra o coronavírus permite que a “racionalidade” derrote o “obscurantismo”. Jair Bolsonaro estava ao seu lado. Fux disse mais: “não devemos escutar vozes que abusam da liberdade de expressão para propagar ódio, desprezo às vítimas e negacionismo científico”. Jair Bolsonaro ainda estava ao seu lado. Claro que entendeu que a coisa era com ele. Claro que seguirá obscurantistae negacionista. Luiz Fux declarou que está “estarrecido” com a fala do presidente do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul, desembargador Carlos Contar. O desembargador pediu “desprezo” a “picaretas que defendem o fiquem em casa”.
BRASIL
O fim da Lava Jato no Paraná
Com muitos acertos e poucos equívocos (no tocante ao emprego excessivo de prisões preventivas), a Lava Jato, maior operação já promovida no País no combate à corrupção, está oficialmente encerrada no Paraná — estado em que nasceu, em 2014. O anúncio foi feito na quarta-feira 3 pelo Ministério Público Federal. O seu grande mérito foi desmantelar o esquema de gatunagem petista em quase todas as áreas do poder, levando à condenação e prisão do ex-presidente Lula, agora já em liberdade. Quatro dos procuradores da força-tarefa da operação foram incorporados ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Jair Bolsonaro declarou recentemente que a Lava Jato não fazia sentido em seu governo, uma vez que nele não há corrupção. Seus filhos e mais R$ 15 milhões em leite condensado que o digam!