As Demoiselles d’Avignon, quem diria, acabaram no Queens. Como uma das obras mais famosas de Pablo Picasso, pintada em 1907, as tais senhoritas poderiam estar ofendidíssimas com a troca de endereço. Afinal, saíram da requintada rua 53, no coração de Manhattan, e se instalaram na rua 33 com Queens Boulevard, no citado bairro da periferia nova-iorquina. À primeira vista, parece um rebaixamento de status, já que a região – guardadas as devidas proporções, naturalmente – é o equivalente à zona norte carioca ou à zona leste paulistana. Mas neste deslocamento, assim como na arte moderna, nem tudo é o que parece. Na verdade, o novo código postal é temporário. Só até 2005, quando ficará pronta a reforma de US$ 600 milhões da sede do Museum of Modern Art (MoMA), de Nova York, com projeto do arquiteto japonês Yoshio Taniguchi. A tela de Picasso também não amargará sozinha este exílio. Junto dela está toda a coleção permanente do acervo do MoMA – agora rebatizado de MoMAQNS – assentada em magníficas instalações, compradas e reformadas ao preço de US$ 250 milhões, com projeto do badalado arquiteto de Los Angeles, Michael Maltzan. E assim foi, com fanfarra e alegria, que se fez uma procissão cercada de toda a segurança para levar quadros do surrealista René Magritte, do abstrato Jackson Pollock, do pop Andy Warhol e de centenas de outras obras de relevada importância produzidas durante os últimos dois séculos.

Esta nova casa de 46 mil metros quadrados ocupa as instalações de uma antiga fábrica de grampos, a Swingline. É verdade que às telas, esculturas e até aos carros da coleção permanente do museu foram destinados apenas 8.500 metros quadrados. Nem tudo o que era exibido na sede de Manhattan estará sob as luzes do dia ou dos spots. Ou melhor, obra alguma será banhada pela luz do dia no MoMAQNS, já que o lugar não tem janelas. Trata-se de um prédio industrial que no exterior foi pintado de azul-vivo e na parte interna ganhou paredes brancas móveis, tubulações negras expostas e piso de concreto polido. O tráfego entre os dois andares e o subsolo serpenteia por uma rampa. No conjunto, o museu é uma espécie de caixa de presentes, com papel de embrulho azulão, interior claro e conteúdo variadamente magnífico, com telas do porte de Dance (1909), de Henri Matisse; ou de The starry night (1889), de Vincent van Gogh. E esculturas como Monumento a Balzac (1897-1898), de Auguste Rodin; e Standing woman (1948), de Alberto Giacometti. Ou seja, um tesouro no subúrbio.