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O helicóptero presidencial sobrevoa o local. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa desembarcar com urgência, pois marcou audiências com integrantes do primeiro escalão do governo. Ao chegar perto da pista de pouso, o piloto observa um aglomerado de pessoas, entre fotógrafos, cinegrafistas, jornalistas e populares. "Está vendo, presidente?", questionou. "Não dá. Volta, volta, vamos para o Alvorada", ordenou Lula, referindo-se ao palácio residencial. Como o helicóptero não conseguiu pousar, a agenda do presidente atrasou. Lula e comitiva tiveram que voltar horas depois, de carro. Ocorrido no começo de uma tarde, recentemente, o episódio ilustra bem a situação de precariedade e improviso do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), à beira do Lago Sul, escolhido como sede provisória do governo federal até a conclusão da reforma do Palácio do Planalto, daqui a um ano.

A maioria das salas é apertada, as instalações elétricas ainda não estão prontas e não há garagem subterrânea. Turistas e visitantes têm livre acesso às autoridades. A equipe de segurança só conseguiu garantir o mínimo de privacidade ao presidente nos últimos dias, improvisando uma barreira com vasos de plantas para evitar a abordagem durante sua chegada e saída. O fato de o CCBB ser um movimentado complexo cultural com salas de cinema e de exposição, teatro, cafeteria e livraria, contribui para aumentar os transtornos às autoridades. De terça a domingo, alunos de pelo menos dez escolas de Brasília visitam o lugar. Desde o dia 7 de abril, o CCBB abriga a exposição Virada russa, que reúne obras do Museu de São Petersburgo, que deve receber 100 mil pessoas até seu encerramento, em junho. "O presidente reconhece que é um sacrifício para todo mundo", diz o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach. "É desconfortável, mas as pessoas vão ter que conviver com isso por um ano", admite o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins

Foram deslocados para o CCBB, além de Lula, ministros, como Dilma Rousseff, da Casa Civil, Luiz Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência, e 330 assessores. A ideia inicial era ficar no Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal, mas a opção foi descartada em razão do trânsito e da segurança. Só que ninguém esperava que os ônus fossem tantos. Como o espaço é restrito, ministros e assessores chegaram a deflagrar uma briga de egos por um lugar próximo ao gabinete presidencial.

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ABERTO AO PÚBLICO Jornalistas de plantão em frente ao prédio, que recebe visitantes e turistas diariamente

O ministro Luiz Dulci, por exemplo, não sossegou enquanto não conseguiu uma sala ao lado do poderoso gabinete. A insistência irritou Dilma. "Isso aqui não estica, não. Estão pensando o quê, que o CCBB é elástico?", desabafou a ministra com a secretáriaexecutiva Erenice Guerra. Jorge Armando Félix, ministro da Segurança Institucional, e Marco Gonçalves Dias, chefe da segurança de Lula, só garantiram um gabinete aos 45 minutos do segundo tempo, pois alguns auxiliares de Lula queriam mandá-los para um dos anexos do Palácio do Planalto, conhecido como "senzala". Mas o ministro José Múcio, da Secretaria de Relações Institucionais, teve que se contentar com um espaço no Bolo de Noiva, prédio anexo do Itamaraty. No gabinete temporário de Lula, foram reaproveitados quase todos os móveis que estavam no Planalto, porém,em um espaço bem menor. A mesa de despachos do presidente fica próxima a um conjunto de sofás e poltronas, assim como a tevê de plasma e uma mesa redonda destinada a reuniões. Entre os integrantes do primeiro escalão do governo, o maior espaço no CCBB coube à ministra Dilma e seus subordinados.

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ROTINA ALTERADA Arranjos para a mudança (à esq.), o novo gabinete presidencial e, acima, cena de uma saída de Lula do prédio do CCBB, que não conta com a segurança de uma garagem subterrânea

Vem daí a denominação dada ao local pelos colegas: "QG da Dilma". Como não vê a hora de sair do improviso no CCBB, Lula exigiu que a reforma acabasse até 21 de abril de 2010, quando será comemorado o cinquentenário de Brasília. A diminuição do número de servidores que hoje despacham no Palácio do Planalto será uma das principais consequências da reforma que Lula encomendou ao arquiteto Oscar Niemeyer. Ou seja, mais reclamações à vista.