28/07/2004 - 10:00
No Carnaval de 2005, a Escola de Samba Vila Isabel, uma das mais tradicionais do Rio, entrará na Marquês de Sapucaí ao ritmo do enredo “Singrando os mares e construindo o Brasil”. É uma louvação ao renascimento da indústria naval no Estado. Os criadores do tema:
Martinho da Vila e Wagner Victer. A fama de Martinho como sambista dispensa apresentações. Victer é o secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio de Janeiro. Aos que estranham essa parceria, cabe logo um aviso: Victer já bolou outros enredos para a avenida. E mais: rimar carnaval com indústria naval, além de sonoro, é iniciativa que chega em hora certa. Vive-se, nos estaleiros e nas plataformas de óleo negro, um período de forte crescimento. “Colhemos agora o planejamento desenhado em 1999, no início do governo Garotinho”, diz Victer. “A retomada da indústria naval, que estava praticamente morta, é um belo exemplo de como investir de modo correto e sustentado num setor da economia.” Os números, eles sim, singram o oceano a todo vapor. Em 1999, os estaleiros abrigavam apenas 500 empregos diretos. Hoje são 22 mil. Os maçaricos e as placas de ferro jaziam em matagais. Não havia nenhuma empresa em operação real. Hoje são 18 em atividade. As encomendas em carteira, há cinco anos, respondiam por US$ 50 milhões. Ao final de 2004 chegará a espetaculares US$ 5 bilhões. Os investimentos em modernização, nesse período, chegam a US$ 80 milhões.
Milagre? “Não”, responde Victer. “Sempre soubemos que a indústria naval é mais importante para o Rio que a indústria automobilística para São Paulo.” A partir dessa premissa, e de muito planejamento, deu-se a explosão. Tratou-se, em primeiro lugar, de produzir isenção de ICMS para o setor. Em seguida, as condições de financiamento também foram melhoradas – saíram de 9 anos para 20 anos. Cursos profissionalizantes foram criados para melhorar a qualidade dos técnicos especializados em navios e plataformas. “Trata-se, neste caso, de recuperar a auto-estima de uma classe econômica crucial para o Rio”, diz Victer. “Boa parte dos camelôs da cidade são desempregados do tempo em que a indústria naval ruiu.”
Aos poucos, recupera-se o viço de antes. O Estaleiro Mauá, ícone brasileiro
criado por Irineu Evangelista no final do século XIX, tinha apenas 20 funcionários
em 1999. Hoje são 6 mil, graças à parceria com o grupo Jurong, de Cingapura. Um outro grupo oriental, o Fels, aliou-se à Verolme. Ali, atualmente, trabalham 8 mil profissionais. Há investimentos também dos noruegueses da Aker. A brasileira Transpetro prevê a construção de 53 navios, na próxima década, com investimentos na casa de US$ 2 bilhões, além de RS$ 4,9 bilhões destinados à construção de novas plataformas de petróleo. “Conseguimos atrair tecnologia do primeiro mundo para nossos estaleiros”, diz o secretário Victer.
Para celebrar esse mar tranqüilo, sem tempestades, Victer criou uma superstição
e dela não se afasta. Atrás de sua mesa de trabalho, no centro do Rio de Janeiro,
há um painel com uma coleção de cadeados de diversos tamanhos. São mais
de 10. Eles mantinham trancados os portões dos estaleiros desativados. A cada reinauguração, o secretário trata de rompê-los e, abertos, os leva para seu
escritório. “São símbolos bacanas do sucesso do setor”, diz. Animado, ele chega a brincar para demonstrar que persistência é o segredo – na indústria naval mas também em outras atividades. “Em 1999, o Fluminense, meu time de coração,
estava na terceira divisão”, lembra. “Era o fim, mas hoje está de novo no topo e
é um dos melhores times cariocas no campeonato brasileiro.” Ao tirar a indústria naval da terceira divisão, levando-a aos primeiros lugares, Victer, com o apoio dos empresários ligados à Firjan, gerou um magnífico pólo de investimentos no Rio
de Janeiro e no Brasil.