07/09/2008 - 10:00
Sentada nos jardins do imponente Palácio Real, em Madri, a brasileira Michelle Rosa, 31 anos, não se abala com a passagem de um carro da polícia. "Sou branquinha", diz. "Nunca me pedem documentos." A tranqüilidade de Michelle é um sentimento raro entre seus conterrâneos radicados na Espanha. Há três meses, durante a campanha que culminou na reeleição do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, até brasileiros a caminho de congressos internacionais foram barrados no Aeroporto Internacional de Barajas, em Madri. Em tempos de crise econômica e de rejeição generalizada aos imigrantes, fazia parte do jogo político recrudescer a fiscalização nas fronteiras. Passada a fase crítica, o governo espanhol voltou a abrir as portas para os brasileiros. Na semana passada, no aeroporto de Madri, as filas da imigração andavam céleres e sem tumultos. Quem chegava, passava.
Pela contabilidade do ministro, com uma quantia de 10 mil euros (o equivalente a R$ 25 mil), muitos imigrantes teriam condições de recomeçar a vida em seu país de origem. A quantia não parece nem um pouco tentadora para o casal Márcio Luiz Ferreira de Souza e Juparaneza Anita Santana, a Nina, ambos com 45 anos. Durante viagem a Madri, para que Nina renovasse o passaporte no consulado do Brasil, eles disseram que dificilmente trocariam a vida que levam em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, pelo Brasil. Souza, que era caminhoneiro em Belo Horizonte e trabalha atualmente na construção civil, conta que, em Las Palmas, eles moram em um apartamento bem localizado, de três quartos. "Em Belo Horizonte, por mais que eu trabalhasse, isso seria impossível", compara.
Ao contrário de Michelle, ambos têm situação legalizada na Espanha. A condição menos confortável não desanima a brasileira, que trabalha como garçonete e pretende se regularizar em breve, por meio do casamento com o namorado espanhol. No futuro imediato, planeja voltar a estudar, já que abandonou no último ano a faculdade de música no Recife. "Não nasci para ser garçonete", diz. "Também não faço o tipo que junta dinheiro para voltar ao Brasil, abrir uma padaria e ser feliz." É nessa arena, com imigrantes determinados a fincar raízes na Espanha, que o governo Zapatero toureia a própria meta de diminuir o número de estrangeiros no país.