04/09/2015 - 19:30
Acabou o dinheiro. Sumiu. Desapareceu. Até a semana passada, sabia-se que a crise econômica era séria. O que não se sabia é que o Estado brasileiro estava quebrado. O governo apresentou na segunda-feira 31 a proposta orçamentária para 2016 com uma novidade. Pela primeira vez na história da República, a autoridade máxima da nação entregou ao Congresso um projeto de Orçamento que prevê gastos maiores que as receitas. A palavra para isso é déficit. Significa que a presidente Dilma exauriu a capacidade financeira do País. Se a tragédia for transferida para a vida privada, dá para entender melhor o tamanho do problema. Ter déficit quer dizer não ganhar o suficiente para honrar os compromissos. O sujeito recebe dez e gasta quinze. A conta não fecha. Primeiro a pessoa perde a credibilidade na praça. Depois, fica difícil conseguir dinheiro emprestado. Os bancos desconfiam de quem está muito endividado e cobram juros altos para reduzir os riscos de um calote. Com a prestação cara demais, o indivíduo não paga. Ele perde o carro. E outros bens que tiver. A bola de neve não tem fim. O infeliz quebra. É assim que funciona na vida real. É assim que será com o governo Dilma Rousseff em 2016.
CRISE
Os ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa e vista áerea do Congresso
Nacional e da Esplanada dos Ministérios: o dinheiro acabou
Pela proposta enviada por Dilma ao Congresso, vão faltar R$ 30,5 bilhões no ano que vem. A quantia é um escândalo, mas o rombo pode ser maior. Na proposta orçamentária, o governo calcula receitas de R$ 27,3 bilhões com a venda de ativos da União. Vender ativos significa alienar imóveis e negociar participações acionárias em empresas da União. Mas essa é uma arrecadação que não se realizou em anos anteriores. Por que em 2016 seria diferente? Basta olhar com mais atenção os indicadores financeiros do governo para dimensionar o problema. No ano que vem, a dívida pública passará dos atuais 66% do PIB para 72%. Também em 2016, o déficit da Previdência chegará R$ 124,9 bilhões, alta de 40,5% em relação a 2015. Os números não mentem: o Estado brasileiro chegou ao fundo do poço financeiro. Ele não tem mais capacidade para administrar suas contas. O nome disso é falência.
Como se chegou a esse cenário? É impossível não atribuir a responsabilidade à presidente Dilma. O governo da petista tomou decisões que culminaram na tragédia econômica atual. Desde o primeiro mandato, ela elevou, à moda populista, os gastos do governo. Estimulou o consumo e o endividamento bancário, pressionando os preços dos produtos. Enquanto a inflação avançava, as pedaladas fiscais arruinavam as contas do governo. Veio daí o intervencionismo nos preços da gasolina e na energia elétrica. Mas os valores represados tiveram que ser liberados em 2015, e a inflação aumentou ainda mais. As empresas perderam a confiança no país. Os investimentos minguaram. Os empregos sumiram. O resultado é um governo sem dinheiro e um País paralisado. Na segunda-feira 31, o desfecho desse processo se deu com o anúncio, feito pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, do inédito déficit orçamentário.
Quando as contas de um governo estão ruins, só há dois caminhos possíveis: reduzir gastos ou aumentar impostos. Dilma escolheu a segunda opção (leia reportagem a seguir). Num momento de aperto no bolso de trabalhadores e empresários, é uma insensatez elevar a carga tributária. Ela, afinal, vai onerar as empresas, que serão obrigadas a cortar gastos (ou seja, empregos e investimentos). Tudo isso deságua no PIB negativo. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a voz mais lúcida da equipe econômica, ameaçou deixar o governo porque não vê disposição da presidente em emplacar o ajuste fiscal e, acima de tudo, cortar na própria carne. Desde o primeiro mandato, a presidente não tem demonstrado disposição para enxugar a máquina pública. Na noite da quinta-feira 4, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, afirmou que Levy permanece no cargo.
A notícia foi um alívio, mas a desconfiança em Dilma parece ser generalizada. Na semana passada, ISTOÉ consultou oito economistas a respeito da crise (leia quadro). Alguns lamentaram as práticas administrativas perdulárias da presidente. Para outros, a chefe da nação destruiu a confiança dos agentes econômicos. A preocupação agora é com o risco de o País perder o grau de investimento, nota dada pelas agências de classificação de risco que indicam a capacidade de um governo de pagar dívidas. Quando a nota cai, credores cobram juros maiores do País e suas empresas, o que torna a crise ainda mais grave. “A nota de risco de um país sempre se move com atraso, para subir ou descer”, disse à ISTOÉ Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio da Rio Bravo Investimentos. “No mercado, já fomos rebaixados. Só falta formalizar.”
Dilma vê sua imagem ruir com Orçamento com R$ 30 bilhões de déficit. Agora, a presidente promete fortalecer o ministro Joaquim Levy na tentativa de salvar as contas públicas. Será que consegue? Até o Michel Temer já demonstra dúvida
Sabe quem vai arcar com os prejuízos gerados pela inépcia do governo? Os milhões de contribuintes que já estão asfixiados pela crise econômica
Fotos: Ana Volpe/Relações Públicas