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CALIBRE Um dos livros contra a senadora é de Carl Bernstein, famoso por investigar o caso Watergate, que derrubou Nixon

A iminente chegada do verão ao Hemisfério Norte não aqueceu apenas a temperatura em território americano. Esquentou também o ambiente entre os democratas de olho nas eleições presidenciais de 2008. Hillary Clinton, a pré-candidata que desponta como favorita do partido, está no alvo de um oponente inusitado: o mercado editorial. Livrarias estão colocando em destaque nas suas prateleiras duas novas biografias sobre a mulher mais poderosa da política na terra do Tio Sam. As revelações vão desde um pacto secreto entre ela e o marido, Bill Clinton – feito ainda na década de 70 e pelo qual cada um exerceria dois mandatos na Presidência dos Estados Unidos -, até o quase divórcio do casal devido a um romance extra-conjugal de Bill no final dos anos 80, bem antes de a estagiária Monica Lewinsky dividir um charuto com o ex-presidente.

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Juntos, os livros A woman in charge – the life of Hillary Rodham Clinton (Uma mulher no comando – a vida de Hillary Rodham Clinton) e Her way – the hopes and ambitions of Hillary Rodham Clinton (À sua maneira – as expectativas e ambições de Hillary Rodham Clinton) trazem mais de mil páginas sobre a vida pessoal e a atuação política da senadora, que está no segundo mandato pelo Estado de Nova York. O retrato final traçado nas obras é o de uma mulher fria e calculista, cuja ambição sem limites a faria superar provações e a levaria por diversos caminhos durante a vida, todos com um mesmo fim: obter o máximo de poder possível. Para o desespero dos líderes de sua campanha, a temporada literária de caça a Hillary apenas começou. Até o final de 2007, os títulos lançados no ano sobre a democrata devem passar de uma dezena. Entre eles, God and Hillary Clinton: a spiritual life (Deus e Hillary Clinton: uma vida espiritual), de Paul Kengor, que promete esmiuçar a crença religiosa de Hillary, revelando em que ela realmente acredita e quando usa a fé apenas para fins políticos.

Biografias carregadas de aspectos negativos não são exatamente uma novidade para a senadora. Dos 17 livros publicados sobre ela nos últimos três anos, apenas quatro não continham críticas pesadas. A diferença é que as obras recém-lançadas carregam assinaturas de muito prestígio e credibilidade e chegam ao mercado com números dignos de best seller. A woman in charge (com tiragem inicial de 275 mil cópias) foi escrito por Carl Bernstein, um dos jornalistas responsáveis pela série de denúncias que ajudaram a derrubar Richard Nixon em 1974. Her Way (175 mil edições) é de autoria dos repórteres investigativos Jeff Gerth e Don Van Natta Jr, que há muito tempo acompanham a vida dos Clinton.

O comitê pró-Hillary apressou-se em depreciar as obras, classificando- as como desprezíveis apanhados de velhas notícias requentadas visando ao lucro das editoras. Mais do que as acusações de ambição desmedida e a revelação do pacto de poder, que não seriam tão desabonadoras para alguém que quer ser presidente, o grande receio dos aliados da senadora é que os livros tragam à tona lembranças desagradáveis associadas aos Clinton, como o caso Lewinsky. Isso poderia fazer com que os americanos decidissem votar por sangue novo dentro do partido. Ou darem seu aval para mais um mandato do ciclo Bush-Clinton, iniciado há duas décadas. A resposta será dada em novembro de 2008 e a única certeza até lá é a de que a temperatura continuará subindo – mesmo depois que o outono voltar.