31/08/2005 - 10:00
Raro é o cidadão que nunca desconfiou que a raiz de um mal súbito estivesse em algo que comeu. O que poucos sabem é que problemas recorrentes e aparentemente sem causa, como dor de cabeça, podem estar associados ao alimento ou à bebida. “Há muita confusão nessa área. Mesmo os médicos se atrapalham”, observa o gastroenterologista Irineu Pantoja, de São Paulo.
É bom consultar um especialista, portanto, se a desconfiança está se tornando corriqueira. “Se alguém sente que um alimento deflagra uma crise de asma, deve procurar ajuda médica”, ensina Fábio Castro, supervisor do Serviço de Imunologia e Alergia do Hospital das Clínicas de São Paulo. Chegar à conclusão de que a culpa está na comida requer avaliação clínica do paciente, análise do histórico familiar e a realização de um teste para medir a reação do organismo a um produto. A novidade é que em setembro será disponibilizado no País um teste que avaliará as respostas do corpo a 51 grupos alimentares com apenas uma amostra de sangue. Entre esses grupos estão os que contêm soja, uva, café, cebola e conservantes. O preço do procedimento deve ficar em torno de R$ 700. “O teste foi criado por um laboratório de Roma, que oferece as análises na Europa há seis anos. O paciente daqui colherá uma amostra, que será enviada à Itália. Dentro de cinco dias, virá a análise”, afirma o médico Pantoja.
Definir qual alimento provoca a reação negativa é importante. Assim como determinar se a resposta resulta de uma intolerância ou alergia, males que diferem nos sintomas e na terapia. Na alergia, há uma resposta do sistema imunológico à presença de um composto – uma proteína do leite, por exemplo –, levando a sintomas como o surgimento de placas avermelhadas na pele ou de asfixia. Dependendo da intensidade dos sinais, a pessoa deve ser encaminhada ao hospital e receber um antialérgico. Se o organismo responde tardiamente ao alimento, no entanto, o problema pode ficar camuflado e pode-se imaginar que o sintoma é conseqüência de outro mal. Por isso, se uma pessoa tentou se tratar de rinite (uma possível resposta alérgica) e não encontrou a solução, convém fazer um teste.
Já na intolerância, os sintomas estão mais concentrados no sistema digestivo. A falta de algumas enzimas impede a absorção de substâncias que seriam metabolizadas se o organismo estivesse funcionando perfeitamente. “O paciente não digere certos elementos”, diz a química Rebeca de Angelis, especializada em fisiologia da nutrição e autora do livro Alergias alimentares (Ed. Atheneu), lançado recentemente. Os elementos não digeridos agridem o trato gastrintestinal, provocando diarréia, cólica e emagrecimento, entre outras complicações.
Os casos mais conhecidos de intolerância são os relativos à lactose (presente no leite) e ao glúten (encontrado no trigo, por exemplo). Para controlar o mal, é preciso mexer na dieta. Em geral, tira-se o ingrediente que faz mal. Mas em algumas situações a pessoa pode “aprender” a tolerar o alimento. “Se ela consumir um pouquinho todo dia e aumentar a porção com o tempo, dá para se acostumar”, assegura Rebeca. A consultora pedagógica Miriam Grilo, de São Paulo, retirou a lactose, o glúten e o açúcar do cardápio durante dois meses. “Melhorei dos problemas digestivos”, conta.