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Quando o ex-presidente Fernando Collor de Melo disparou nas pesquisas eleitorais em 1989, um entre tantos argumentos usados pelos partidários do então deputado federal Luiz Inácio Lula da Silva para justificar a liderança do jovem governador alagoano encontrava explicações na estética. Para eles, a pinta de playboy de Collor roubava votos de um nada atraente Lula, apelidado havia pouco de Sapo Barbudo pelo ex-governador e também presidenciável Leonel Brizola. O que parecia ser desculpa de derrotados, no entanto, trata-se de uma verdade inquestionável, de acordo com o Massachusetts Institute of Technology, o MIT, uma das instituições de pesquisa mais respeitadas do mundo. Um estudo realizado pela universidade americana mostra que, em política, a beleza é muito mais do que um mero atrativo estético. É, na verdade, um ativo valiosíssimo em uma eleição majoritária.

Para provar isso, o MIT decidiu financiar uma pesquisa específica sobre o assunto, batizada de Looking like a Winner: Candidate Appearance and Electoral Success in New Democracies” (algo como: Parecendo-se com um vencedor: aparência do candidato e sucesso eleitoral nas novas democracias). Os cientistas do instituto selecionaram dois grupos para estudar tão díspares quanto a distância que os separa: americanos e indianos. Para cada um deles foram apresentadas as fotos oficiais de candidatos a governador e deputados federais do Brasil e do México. A cada voluntário, uma espécie de cédula com as fotos de apenas dois candidatos era apresentada e uma pergunta era feita: qual dos dois seria um melhor governante, caso fosse eleito? Em cerca de 75% das vezes os entrevistados indianos e americanos escolheram o mesmo candidato, sinalizando que, apesar da latente diferença cultural entre eles, existe um consenso sobre qual é a aparência de um bom homem de Estado.

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Surpreendentemente, o candidato escolhido como o melhor pela maioria dos entrevistados foi, em cerca de 70% das vezes, o eleito na corrida eleitoral de seu país. Gabriel Lenz, professor do MIT e coautor do estudo declarou ter ficado “chocado” com o resultado da experiência. “Essas são culturas muito diferentes, com tradições políticas e histórias diferentes”, disse. A pesquisa levou em consideração variáveis como: idade, cor da pele, sexo e até uso de barba ou bigode. Ao que tudo indica, eleitores de toda parte tendem a optar por pessoas de pele mais clara, em idade intermediária e sem pelos no rosto. Além disso, os candidatos que estavam sorrindo nas fotos causaram maior simpatia entre os potenciais eleitores.

A professora Denise Pollini, que ministra a disciplina estética e estilismo de um Candidato no curso de especialização de marketing político da USP, garante que não basta ser um “galã” para ganhar uma eleição. Para ela, a estética ajuda o candidato causando uma “primeira atração”. Depois de ter conseguido atrair com mais facilidade a atenção do eleitor, ele deverá fazer jus ao que diz sua imagem. “Imagem não é tudo”, diz Denise. “Se ela não caminhar junto com uma solidez no discurso, um dia ela vai desabar e ruir, e é muito pior uma imagem que não se sustenta que uma imagem ruim.” É o que se espera.