17/11/2004 - 10:00
O ex-governador Anthony Garotinho vai pôr fim às suas funções de secretário de Segurança entregando à população do Rio de Janeiro o que diz ser a vanguarda em termos de vigilância e ação policial no combate ao crime. Em seguida, percorrerá o País defendendo a idéia de que o PMDB é uma terceira via ao neoliberalismo “implantado pelo PSDB e perpetuado pelo PT”. Ele defende que seu partido rompa com o governo Lula, faça prévias e escolha um candidato a fim de oferecer um novo caminho que não passe pelo favorecimento do sistema financeiro, e sim reforce os valores da Nação, fortaleça Estados e municípios e preserve a soberania nacional. Projeto que chama de neonacionalismo.
Quando o presidente Lula venceu as eleições, havia um grande desejo de mudança no País. Hoje o que se percebe, passadas as eleições municipais, é que no essencial, na política macroeconômica, há uma identidade entre o PSDB e o PT. O PMDB quer reconstruir sua imagem nacional, ficar em uma posição de independência e oferecer ao Brasil um novo caminho. Mostrar que existe uma ampla possibilidade além desta que vem sendo implementada pelo governo do PT, que é a mesma do PSDB.
Um caminho que passa por uma política que não favoreça o sistema financeiro da forma como o PSDB favoreceu e o PT continua favorecendo. Os bilhões gastos anualmente para o pagamento do serviço da dívida, determinados pelo governo através da taxa Selic, poderiam ser utilizada em projetos de infraestrutura, educação e na construção de uma visão econômica nova. O PT repete o PSDB no enfraquecimento do pacto federativo. Os municípios e Estados estão mais pobres, com menos poder, tornando o Brasil um Estado quase unitário, ditatorial, com poderes demais concentrados nas mãos da Presidência. Seria mais produtivo para o País e a sociedade se tivéssemos Estados e municípios fortes, com atividades econômicas diversas, com seus bancos regionais, que foram engolidos durante esse processo neoliberal que alcançou o Brasil.
O PT optou por uma visão de curto prazo e isso preocupa muito. Para nós, a crise do Brasil não é só de curto prazo, mas de identidade, de destino. Não há planejamento de médio e longo prazos para nenhum setor da atividade pública. O País está sem rumo. O único planejamento que se fala é a reeleição dos presidentes da República, da Câmara e do Senado. Queremos planejamento de longo prazo para políticas agrícola, industrial, educacional. Estamos perdendo tanto a identidade nacional que em determinados momentos sentimos que o País chegou ao fundo do poço.
Porque deixamos de ser tratados até como País. Antigamente se dizia que o Brasil era o País do futuro. Depois, que era o País emergente. Agora nós somos um mercado emergente.
Entendo que valores são fundamentais, são os pilares de uma nação. Uma nação sem valores não tem sentido de existir. Uma nação não é
um shopping center. Ela deve ter princípios e acho que esses assuntos o PT abandonou. Acho que esse novo nacionalismo, que é necessário para se
constituir a terceira via contra o neoliberalismo do PT e do PSDB, tem uma premissa fundamental: a de que contra uma política global há necessidade imperiosa da soberania nacional. Não soberania naquela concepção fechada, dos anos 50, mas a soberania de que nas relações internacionais o País não pode ceder tudo sem contrapartida, na forma como tem cedido.
Isso não se reflete na política econômica. É mais marketing do que reflexo de fato no cotidiano das pessoas.
É isso. O que o PMDB precisa é de uma nova imagem. Essa nova imagem tem de ser descolada da imagem que o partido construiu ao longo dos últimos anos não tendo uma candidatura própria a presidente. Desde já eu digo: o PMDB precisa ter candidato próprio. Quero deixar claro que não precisa ser Garotinho. Para escolher o candidato do PMDB, por exemplo, eu defendo prévias. O candidato deve nascer do desejo das bases estaduais do partido.
Não vou me excluir, mas não devo ser eu, necessariamente. Mas o PMDB precisa ter candidato para quebrar a polarização entre Lula e o PSDB, que vem desde 1994. O mercado já percebeu que os dois são iguais. Há, inclusive, uma brincadeira segundo a qual um é o autêntico e o outro é o comprado em Pedro Juan Caballero, ou seja, um neoliberalismo pirata.
A maioria dos mais de mil prefeitos que o partido elegeu. O partido elegeu oito mil vereadores e ainda é o maior partido do País. E empolga setores
da sociedade que estão decepcionados e descrentes da política do PT e querem uma via alternativa.
Roberto Requião, Germano Rigotto, Luiz Henrique, Jarbas Vasconcelos e muitos outros. De repente, o Itamar Franco pode querer voltar.
Nesses últimos dois anos me dediquei a um trabalho muito difícil à frente da Secretaria de Segurança do Rio. Agora, em dezembro, quando boa parte desse trabalho estiver concluída, eu me sentirei mais liberado para caminhar pelo País e mostrar que há um outro Brasil possível.