O ex-governador Anthony Garotinho vai pôr fim às suas funções de secretário de Segurança entregando à população do Rio de Janeiro o que diz ser a vanguarda em termos de vigilância e ação policial no combate ao crime. Em seguida, percorrerá o País defendendo a idéia de que o PMDB é uma terceira via ao neoliberalismo “implantado pelo PSDB e perpetuado pelo PT”. Ele defende que seu partido rompa com o governo Lula, faça prévias e escolha um candidato a fim de oferecer um novo caminho que não passe pelo favorecimento do sistema financeiro, e sim reforce os valores da Nação, fortaleça Estados e municípios e preserve a soberania nacional. Projeto que chama de neonacionalismo.

ISTOÉ – Por que o sr. defende a saída do PMDB do governo?
Ana carvalho, Aziz filho e Ramiro Alves

Quando o presidente Lula venceu as eleições, havia um grande desejo de mudança no País. Hoje o que se percebe, passadas as eleições municipais, é que no essencial, na política macroeconômica, há uma identidade entre o PSDB e o PT. O PMDB quer reconstruir sua imagem nacional, ficar em uma posição de independência e oferecer ao Brasil um novo caminho. Mostrar que existe uma ampla possibilidade além desta que vem sendo implementada pelo governo do PT, que é a mesma do PSDB.

ISTOÉ – Que caminho seria esse?
Ana carvalho, Aziz filho e Ramiro Alves

Um caminho que passa por uma política que não favoreça o sistema financeiro da forma como o PSDB favoreceu e o PT continua favorecendo. Os bilhões gastos anualmente para o pagamento do serviço da dívida, determinados pelo governo através da taxa Selic, poderiam ser utilizada em projetos de infraestrutura, educação e na construção de uma visão econômica nova. O PT repete o PSDB no enfraquecimento do pacto federativo. Os municípios e Estados estão mais pobres, com menos poder, tornando o Brasil um Estado quase unitário, ditatorial, com poderes demais concentrados nas mãos da Presidência. Seria mais produtivo para o País e a sociedade se tivéssemos Estados e municípios fortes, com atividades econômicas diversas, com seus bancos regionais, que foram engolidos durante esse processo neoliberal que alcançou o Brasil.

ISTOÉ – Na sua opinião, qual a maior preocupação do PMDB hoje com relação ao governo Lula?
Ana carvalho, Aziz filho e Ramiro Alves

O PT optou por uma visão de curto prazo e isso preocupa muito. Para nós, a crise do Brasil não é só de curto prazo, mas de identidade, de destino. Não há planejamento de médio e longo prazos para nenhum setor da atividade pública. O País está sem rumo. O único planejamento que se fala é a reeleição dos presidentes da República, da Câmara e do Senado. Queremos planejamento de longo prazo para políticas agrícola, industrial, educacional. Estamos perdendo tanto a identidade nacional que em determinados momentos sentimos que o País chegou ao fundo do poço.

ISTOÉ – Por quê?
Ana carvalho, Aziz filho e Ramiro Alves

Porque deixamos de ser tratados até como País. Antigamente se dizia que o Brasil era o País do futuro. Depois, que era o País emergente. Agora nós somos um mercado emergente.

ISTOÉ – Há espaço político para o resgate de visões mais nacionalistas?
Ana carvalho, Aziz filho e Ramiro Alves

Entendo que valores são fundamentais, são os pilares de uma nação. Uma nação sem valores não tem sentido de existir. Uma nação não é
um shopping center. Ela deve ter princípios e acho que esses assuntos o PT abandonou. Acho que esse novo nacionalismo, que é necessário para se
constituir a terceira via contra o neoliberalismo do PT e do PSDB, tem uma premissa fundamental: a de que contra uma política global há necessidade imperiosa da soberania nacional. Não soberania naquela concepção fechada,  dos anos 50, mas a soberania de que nas relações internacionais o País não pode ceder tudo sem contrapartida, na forma como tem cedido.

ISTOÉ – Mas um dos pontos mais fortes do governo Lula é sua projeção internacional…
Ana carvalho, Aziz filho e Ramiro Alves

Isso não se reflete na política econômica. É mais marketing do que reflexo de fato no cotidiano das pessoas.

ISTOÉ – O sr. propõe uma substituição do neoliberalismo pelo neonacionalismo?
Ana carvalho, Aziz filho e Ramiro Alves

É isso. O que o PMDB precisa é de uma nova imagem. Essa nova imagem tem de ser descolada da imagem que o partido construiu ao longo dos últimos anos não tendo uma candidatura própria a presidente. Desde já eu digo: o PMDB precisa ter candidato próprio. Quero deixar claro que não precisa ser Garotinho. Para escolher o candidato do PMDB, por exemplo, eu defendo prévias. O candidato deve nascer do desejo das bases estaduais do partido.

ISTOÉ – O sr. não é candidato?
Ana carvalho, Aziz filho e Ramiro Alves

Não vou me excluir, mas não devo ser eu, necessariamente. Mas o PMDB precisa ter candidato para quebrar a polarização entre Lula e o PSDB, que vem desde 1994. O mercado já percebeu que os dois são iguais. Há, inclusive, uma brincadeira segundo a qual um é o autêntico e o outro é o comprado em Pedro Juan Caballero, ou seja, um neoliberalismo pirata.

ISTOÉ – Esse discurso empolga quais setores do PMDB?
Ana carvalho, Aziz filho e Ramiro Alves

A maioria dos mais de mil prefeitos que o partido elegeu. O partido elegeu oito mil vereadores e ainda é o maior partido do País. E empolga setores
da sociedade que estão decepcionados e descrentes da política do PT e querem uma via alternativa.

ISTOÉ – O PMDB tem nomes para projetar essa idéia do neonacionalismo?
Ana carvalho, Aziz filho e Ramiro Alves

Roberto Requião, Germano Rigotto, Luiz Henrique, Jarbas Vasconcelos e muitos outros. De repente, o Itamar Franco pode querer voltar.

ISTOÉ – O sr. pretende sair pelo País organizando as bases e o novo PMDB?
Ana carvalho, Aziz filho e Ramiro Alves

Nesses últimos dois anos me dediquei a um trabalho muito difícil à frente da Secretaria de Segurança do Rio. Agora, em dezembro, quando boa parte desse trabalho estiver concluída, eu me sentirei mais liberado para caminhar pelo País e mostrar que há um outro Brasil possível.