27/08/2008 - 10:00
As eleições municipais do Rio são o atual foco de desentendimento entre o governador Sérgio Cabral Filho e o generalde- Exército Luiz Cesário da Silveira Filho. Cabral pediu, e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizou, ajuda das Forças Armadas nas eleições cariocas, já que alguns candidatos estão sendo impedidos de fazer campanha em áreas dominadas por traficantes ou milicianos. O governador explicou por que apelou para as forças federais: “Aqui no Rio há um certo ruído de convivência com o Comando do Exército local.” O governador está falando de Silveira Filho, o chefe do Comando Militar do Leste (CML). Os dois vêm se enfrentando publicamente desde junho, quando militares do Exército entregaram três moradores do Morro da Providência para traficantes. Depois de dizer que o Exército não tem poder de polícia, o comandante acusou o Estado de não fazer segurança adequadamente.
Silveira também foi o único membro do Alto-Comando do Exército a participar do seminário-protesto, dia 7, no Clube Militar, no Rio, contra a revisão da Lei de Anistia (1979) para punir militares supostamente envolvidos em torturas e assassinatos de presos políticos. “Vim aqui como pessoa física”, justificou, à paisana. Raramente o comandante dá entrevistas. Mas é mestre em produzir factóides. Em maio, o general prestou uma homenagem aos generais-presidentes da ditadura ao inaugurar a Sala dos Militares Presidentes no Forte de Copacabana. Recentemente, Silveira pôs no site do CML uma frase do general Walter Pires, ministro do Exército de João Figueiredo. Diz a frase: “Estaremos solidários com aqueles que, na hora da agressão e da adversidade, cumpriram o duro dever de se opor a agitadores e terroristas de armas na mão, para que a nação não fosse levada à anarquia.”
Silveira também criticou a decisão do governo de promover a general, postmortem, o ex-guerrilheiro Carlos Lamarca. Era uma decisão que, como militar, não lhe cabia contestar. Mas a disciplina e a hierarquia, sagradas para as Forças Armadas, parecem não fazer parte do sistema de valores do general Silveira. Ele ganhou sua espada de aspirante a oficial em 1963, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), então comandada pelo general Emílio Médici, que seria presidente durante o período mais repressivo da ditadura, quando a anarquia militar campeava nos quartéis. Segundo oficiais que conhecem Silveira, ele é um saudosista daquele tempo. No site do CML, no quadro comemorativo aos 200 anos do general Osório, diz-se que ele era o “herói que veio com o minuano” (vento do sul). Por coincidência, a mesma frase foi usada no discurso de posse de Médici – também gaúcho – na Presidência da República, em 1969.