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BUSH, O FILME Cena de W. com o ator Josh Brolin (foto) no papel de George W. Bush. O ex-presidente é retratado como um chefe de Estado dispersivo e inseguro

Em uma cena do filme W., de Oliver Stone, o ex-presidente americano George W. Bush, interpretado pelo ator Josh Brolin, engasga com um pretzel e quase morre sufocado em sua sala de tevê, enquanto assiste sozinho, tomando cerveja, a um jogo de beisebol. A sua sorte é que, por estar tão bêbado, tropeça e cai ao chão: o impacto faz o salgadinho ser expelido.

Essa sequência é apenas uma pequena amostra – porém expressiva – do quanto essa nova produção de Oliver Stone é implacável com o ex-presidente. A verve satírica e as teorias conspiratórias são marcas registradas desse diretor que também filmou JFK, sobre o assassinato de John Kennedy, e Nixon, com Anthony Hopkins. Stone é um aficionado pelo tema, mas está longe de ser o único – além do seu aguardado e polêmico W. (estreia em abril), em que Bush é descrito como um jovem que vivia embriagado e um presidente dispersivo e inseguro, está em cartaz no Brasil Frost/Nixon, de Ron Howard.

Outros dois diretores americanos também se debruçam atualmente sobre a história de ex-presidentes de seu país. Martin Scorsese prepara-se para uma cinebiografia sobre Franklin Roosevelt, com Leonardo DiCaprio no papel principal, e Steven Spielberg está ensaiando a sua versão do mais popular presidente dos EUA, Abraham Lincoln – mentor de Barack Obama e citado por ele em seu discurso de posse. Será protagonizado pelo ator irlandês Liam Neeson. Ambos os filmes têm lançamento previsto para o ano que vem. "No cinema americano existe uma tradição de análise e avaliação dos presidentes.

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O que é interessante para preservar a memória e importante enquanto aprendizado político", diz a professora Vera Chaia, do núcleo de arte, mídia e política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Essa tradição é atestada na contabilidade do banco de dados IMDB (The Internet Movie Database), referência mundial em assuntos cinematográficos. O site registra mais de 600 produções americanas nas quais o presidente do país tem papel de destaque, incluindo ficção, séries de tevê e documentários.

O pioneiro é o clássico O nascimento de uma nação (1915), de D.W. Griffiths, no qual o ator Joseph Henabery interpreta Abraham Lincoln (que por sinal está representado em cerca de 200 produções). Henry Truman, Franklin Roosevelt e Ronald Reagan são mais alguns dos célebres personagens já imortalizados. Se Hollywood sempre se apropriou de personalidades míticas e polêmicas da sociedade americana para criar filmes que geralmente lhe rendem boas bilheterias, no Brasil sobram boas histórias para serem levadas ao cinema.

Há poucos dramas históricos sobre os nossos chefes de Estado: o que predomina são os documentários, como Anos JK e Jango, ambos de Silvio Tendler, e Getúlio Vargas, de Ana Carolina. Há também minisséries feitas para a tevê, como Agosto e JK. O primeiro longa-metragem será Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto, que deverá estrear em 2010. "É difícil atrair o público para filmes históricos. Ainda é mais fácil lotar os cinemas e ter bom retorno financeiro por meio de comédias que mantêm uma linguagem parecida com a das novelas", diz a pesquisadora Vera Chaia.