18/03/2009 - 10:00
ANATOMIA Este era um modelo de anatomia usado por volta do ano 1400
Basta uma rápida passada de olhos no conteúdo da exposição online aberta há duas semanas pelo Museu da Ciência de Londres – intitulada Brought to life: exploring the history of medicine (Trazida à vida: explorando a história da medicina) – para se chegar à conclusão de que os doentes do passado sofriam muito mais do que os de hoje. Ilustrada com cerca de 2,5 mil imagens, a mostra relata a história da medicina por meio de objetos, instrumentos cirúrgicos, ilustrações e técnicas usados ao longo do tempo.
As imagens de arcos, facas cirúrgicas e serras afiadas dão uma idéia do sofrimento de alguém que passava por uma operação. Até o século XIX, quando o poder anestésico do clorofórmio foi descoberto, esses procedimentos eram feitos praticamente a frio – e, como revela a exposição, com instrumentos rudimentares. Os métodos usados para anestesiar também eram muito diferentes dos atuais. O médico colocava a substância em um inalador e o doente aspirava o vapor até perder os sentidos. Mais tarde, o álcool e o éter passaram a ser usados. Foi se valendo desses inaladores que a rainha Vitória, que reinou de 1837 a 1901 na Inglaterra, deu à luz seus filhos. O alívio máximo da dor veio com a morfina, no mesmo século. "O paciente não sentia mais dor durante e depois da cirurgia", conta Hélcio Miziara, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília.
Na mostra, é possível conhecer como eram as primeiras dentaduras. Elas datam do ano 700 a.C. e eram feitas com dentes de pessoas mortas ou de animais. Bois estavam entre os doadores. Os dentes eram grampeados com pino metálico em uma faixa de ouro e depois agrupados ao resto dos dentes. Um luxo que só os ricos podiam comprar. Há referências ao fato de como ciência e religião andaram juntas ao longo das eras.
Uma das ilustrações mostra um recurso usado na Grécia Antiga para diagnóstico de doenças. Os pacientes eram levados aos templos para passar a noite. Acreditava-se que os sonhos poderiam trazer informações que ajudassem a descobrir as causas do problema. O poder da fé também é mostrado por meio da existência dos chamados ex-votos, modelos de partes do corpo oferecidos em agradecimento a uma cura. Esta prática existe até hoje.
Alguns dos destaques da exposição são os modelos anatômicos usados por médicos e alunos para estudar a anatomia humana. Os "bonecos" eram feitos por escultores em uma época em que não se conheciam métodos para preservar corpos. Tampouco havia cadáveres disponíveis para dissecação. Esculpidos de acordo com o que se imaginava ser o formato do organismo, esses modelos prevaleceram por muitos anos nos centros de estudo da Europa.
ANESTESIA No aparelho era colocado um anestésico inalatório. Era usado em partos e em procedimentos cirúrgicos
Esse passeio na história permite reflexões sobre as conquistas do homem no campo da medicina. Até a década de 1940, por exemplo, os médicos tinham muito receio de fazer intervenções no coração. Isso porque eles não conheciam métodos que permitissem parar o órgão durante um procedimento. Depois, resolveram inovar: colocaram um paciente em uma banheira cheia de gelo. Era a forma encontrada para reduzir a atividade do metabolismo e baixar a temperatura do corpo.
Com isso o coração batia mais lentamente, reduzindo o consumo de oxigênio. "Assim era possível fazer uma intervenção com risco reduzido", afirma Miziara. Atualmente, as operações cardíacas são um espetáculo de sofisticação. Para que o coração possa ser consertado, uma máquina faz as vezes do órgão. Por meio de aparelhos de respiração e circulação extracorpórea, o sangue continua a circular, enquanto o coração doente recebe o tratamento.