Foi impossível não se recordar dos malfadados planos econômicos, do Cruzado I ao Collor II. No primeiro dia útil de 2008, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo, sentaram-se diante dos jornalistas para anunciar um pacote de medidas drásticas. Como nos maus tempos, uma edição extra do Diário Oficial da União impôs ao País um aumento de impostos – elevação de 0,38 ponto percentual sobre operações de crédito e câmbio, duplicação do IOF para pessoas físicas e mudança de 9% para 15% na alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido do setor financeiro.

É um pacote com a cara do velho PT. Na leitura fácil, parece atingir fortemente os bancos, com a elevação de 66% da alíquota da CSLL, e os ricos, que fazem operações de câmbio e têm aplicações financeiras. Se estivesse imbuído do espírito da Carta aos Brasileiros, com a qual Lula solidificou sua eleição em 2002, o governo saberia que os bancos irão repassar esses custos aos serviços, penalizando uma larga parcela da população que mergulhou no crediário para ascender socialmente.

O pacote de Mantega expõe cruamente a crise de identidade vivida pelo PT. Depois de renunciar ao discurso de reestatização de empresas privadas, de controle de câmbio e outras práticas intervencionistas, o novo PT ajudou a melhorar o Brasil. Restou- lhe como derradeira bandeira ideológica o apego à idéia de um Estado provedor, refletido, em seu melhor momento, no sucesso do Bolsa Família. A extinção da CPMF, contudo, acordou-o desse último sonho juvenil ao impor a necessidade de cortar o orçamento, coibir aumentos no funcionalismo e, em última instância, emagrecer o Estado.

Se, para justificar o pacote, o PT voltar a estabelecer o discurso de ricos contra pobres, norte contra sul e centro contra periferia que dominou a campanha de 2006, pode até ganhar a eleição municipal deste ano. Mas terá perdido o sentido histórico da mudança que amadureceu o partido e levou o Brasil a recuperar o caminho do desenvolvimento.