Nos últimos dias, prefeitos tucanos de cidades importantes receberam telefonemas de aliados do governador paulista, José Serra. Depois de enumerar as virtudes eleitorais de Serra e os bons índices nas pesquisas de opinião, eles criticaram o governador de Minas, Aécio Neves. "Ele é muito novo", foi um dos argumentos para dizer que ele não deve ser candidato à sucessão de Lula. Alguns casos de tons mais elevados levaram estes políticos a se queixar do nível da disputa. "Esse tipo de política silenciosa e camuflada pode rachar o partido", disse à ISTOÉ um prefeito tucano na manhã da quinta-feira 12. "E partido dividido perde eleição. O Serra sabe bem disso."

Se a tática do governador paulista era segurar a proposta de prévias numa panela partidária, enquanto injetava mais pressão contra Aécio, ela vazou na semana passada quando o presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, desceu do muro. "Eles são governadores, têm que trabalhar", disse FHC, num recado direto ao mineiro, que propôs viajar pelo País com Serra. "Não podem sair pelo Brasil a fazer prévias e não trabalhar." Não tinha um mês que FHC havia pregado o "amplo debate" para a escolha do candidato. A mudança de postura foi a senha para que Serra, que havia declarado nada ter contra as prévias, explicitasse sua contrariedade. "Não posso deixar de governar para ficar no tititi", disse.

FHC e Serra tentam assim demarcar um território inexistente: o do governador que governa sem fazer política. É como se o lançamento do PAC paulista nada tivesse a ver com a intenção de criar um contraponto eleitoral ao PAC da ministra Dilma Rousseff. Ou como se a nomeação do ex-governador Geraldo Alckmin para a Secretaria de Desenvolvimento fosse apenas um ato burocrático e não uma tentativa de unir o partido em São Paulo.

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Até agora, os aecistas pretendiam levar o grupo de Serra às prévias sem alarde. "Quando você quer pegar uma galinha, não grita ‘xô, galinha’", explica um líder tucano. Mas as agressões nos bastidores e as declarações de FHC inverteram a estratégia do governador mineiro. "Não se constrói um projeto para o País de alguns gabinetes ou da avenida Paulista, mas caminhando pelo País", respondeu Aécio ao ex-presidente.

"É isso o que estou me dispondo a fazer", disse, lembrando que as viagens seriam nos finais de semana. Como estratégia de aliciamento, Aécio tem convidado lideranças tucanas para encontros no Palácio da Liberdade. Não se pode dizer que suas palavras sobre Serra sejam necessariamente de carinho, mas os interlocutores têm saído de lá com elogios à goiabada com sorvete de queijo, servida de sobremesa. A tática parece dar resultados. Pesquisas encomendadas pelo comando do PSDB indicam que mais de 60% dos diretórios são favoráveis às prévias. "Sempre se busca a composição, mas a prévia é instrumento legítimo e democrático", afirma o prefeito de Curitiba, Beto Richa. "É muito mais sábio ouvir mais gente do que quatro ou seis iluminados", diz o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).

Aécio precisa crescer nas pesquisas para que o partido não perca o entusiasmo pelas prévias. Mas não vai ser no final de semana, e sim na segundafeira 16, que ele desembarcará no Recife para iniciar um giro nacional. Seu objetivo é criar fatos novos para se posicionar diante de um governo popular. Ele agendou encontros com lideranças do PMDB, PPS e PSB. "A oposição só cresce quando fala e mostra propostas", diz o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP). "Não podemos ficar na política do silêncio." Com a panela partidária aberta, as desavenças tucanas, agora, serão públicas.