10/09/2008 - 10:00
Quem visita a Pennsylvania Avenue, em Washington, logo se depara com o edifício-sede do FBI. Todo em concreto, o monstro arquitetônico se chama The J. Edgar Hoover Building e homenageia o policial que comandou a instituição de 1924 a 1972. O batismo foi feito pelo então presidente Richard Nixon, dias após a morte de Hoover. Era um tributo pelos serviços prestados. Dois anos depois, Nixon saiu da Casa Branca pela porta dos fundos, acusado de espionar adversários políticos. O escândalo de Watergate, em grande medida, foi fruto do descontrole sobre o aparato de espionagem criado por Hoover no FBI, que acabou transportado para a CIA.
Lula ainda não teve seu Watergate – e difi cilmente terá. Paranóico ao extremo, Nixon encarnava o papel de chefe dos espiões. No Brasil, ainda que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) esteja diretamente subordinada à Presidência da República, Lula será sempre visto como mais uma vítima dos arapongas – e não como o líder da turma. Ainda assim, há um paralelo entre as trajetórias de J. Edgar Hoover e de Paulo Lacerda. Durante muitos anos, o chefe do FBI foi um herói americano reconhecido pela efi ciência no combate ao crime. Mas após sua morte, com a abertura dos arquivos secretos do órgão, o mito desmoronou. Descobriuse que ele realizava grampos ilegais, plantava provas contra inimigos e produzia dossiês políticos – em quase meio século da era Hoover no FBI, 883 senadores e 722 deputados americanos foram espionados.
No governo Lula, Paulo Lacerda também tem uma folha de serviços prestados. No primeiro mandato, foi a face de uma nova PF que se dizia "republicana" – e, de acordo com o rótulo, criado pelo ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, não perseguia nem protegia ninguém. Com suas operações midiáticas, Lacerda comandou mais de cinco mil prisões temporárias e fez a festa dos criminalistas, que ganharam rios de dinheiro. Hoje, por defi ciência de prova, poucos são os alvos daquelas operações que ainda estão presos ou respondem a processos, mas a imagem que fi cou para o povão foi a de ricos algemados em camburões. Certa ou errada, a PF lacerdista espanou para fora da grande área vários escândalos petistas.
Dado o histórico, Paulo Lacerda imaginava que continuaria à frente da máquina de prisões do governo Lula, mesmo após a saída do padrinho Thomaz Bastos. Perdeu a aposta e levou a Abin como prêmio de consolação. Ao chegar à agência, pediu autorização para grampear telefones, mas sua pretensão foi rechaçada. Insatisfeito, ele coordenou à distância a Operação Satiagraha, que se aproximou perigosamente do Palácio do Planalto. Diante disso, restou ao presidente uma única alternativa – a de afastá-lo. Caso contrário, em vez de chefe, Lula seria refém da Abin.