O primeiro bebê gerado em laboratório, com o auxílio de técnicas de reprodução assistida, nasceu em 1978. Desde então, o que se vê é a proliferação das pesquisas para aperfeiçoar cada aspecto dos métodos de tratamento da infertilidade. A meta é elevar, nem que seja um pouco, as chances de conseguir uma gestação e de que ela tenha um final feliz. Pois bem, uma conquista científica anunciada recentemente nessa área, a vitrificação dos óvulos, promete ser o mais importante avanço registrado nos últimos anos, fazendo as taxas de sucesso dos tratamentos subir bastante.

Desenvolvida no Japão, a vitrificação é uma técnica para conservar óvulos humanos. Ela começou a ser oferecida há três anos em clínicas de 12 países, entre eles o Canadá, os Estados Unidos, a Inglaterra e a Argentina, e está despontando como a solução de um dos maiores dilemas dos especialistas: guardar as células reprodutivas da mulher sem que elas percam a sua eficiência ao serem descongeladas. Isso já tinha sido conseguido com os espermatozóides – os gametas masculinos. Eles não sofrem danos durante o processo de armazenamento e mantêm a capacidade de fecundar um óvulo no laboratório quando descongelados. Com os óvulos, o resultado nunca foi bom. Em geral, de cada dez submetidos ao congelamento, apenas um ou dois se salvavam e tinham condições de gerar um embrião após o descongelamento. Isso desanimou os especialistas, que só indicavam o congelamento de óvulos em situações extremas, como os tratamentos do câncer que aniquilam a fertilidade.

O segredo do novo método é a rapidez no momento do congelamento. "No congelamento lento dos óvulos, a temperatura demora entre 120 e 180 minutos para cair até os 196 graus negativos. Na vitrificação, o processo leva um segundo. Com isso, não há mais perda de óvulos", disse à ISTOÉ Gabriel Dalvit, pesquisador da Universidade de Buenos Aires e integrante do grupo criador da técnica, liderado pelo cientista japonês Masashige Kawayoama. Na semana passada, Dalvit esteve em São Paulo para ensinar o método.

A preparação dos óvulos também é diferente. No processo tradicional, eles recebem uma dose pequena de substâncias para proteger suas estruturas internas. Na vitrificação, a concentração dessas substâncias é mais alta e invade o interior do óvulo para substituir a água ali contida. "Esse procedimento, aliado à velocidade de congelamento, evita a formação dos cristais de gelo que danificam as estruturas internas dos óvulos", explica o especialista em reprodução humana Edson Borges, da clínica Fertility, de São Paulo. Lá, há cerca de 400 óvulos vitrificados.

O impacto da mudança trazida pela vitrificação começa a ser sentido. Nas contas do cientista Kawayoama, cerca de 600 bebês já nasceram no mundo com o uso de óvulos vitrificados. No Brasil, há alguns, e os especialistas estão animados. "A recuperação de óvulos com tanta qualidade e menos perdas vai mudar completamente a fertilização assistida", diz o ginecologista Paulo Olmos, do Projeto Alfa, de São Paulo. No Japão, por exemplo, onde a vitrificação é usada também para guardar embriões, a taxa de gravidez obtida com os tratamentos de reprodução assistida aumentou 15% em relação à média mundial, garante Dalvit. Outra conseqüência, esta esperada a médio e longo prazo, é a redução dos preços das terapias de fertilização. Além disso, pode ser que mais mulheres jovens sintam-se encorajadas a recorrer à vitrificação para conservar seus óvulos com o intuito de adiar a gravidez por alguns anos. "Isso permitirá às mulheres guardar seus óvulos antes que a idade piore sua qualidade, o que reduz as chances de engravidar", diz Olmos.