Nos últimos dias, os nova-iorquinos mais desatentos talvez não tenham percebido nada de diferente no local onde ficava o World Trade Center. Desde os ataques de 11 de setembro de 2001, o espaço é um permanente canteiro de uma obra que parece nunca ter fim. No dia 28 de agosto, no entanto, a entrega de parte das oito mil toneladas de aço que serão utilizadas na região passou a representar, na prática, o primeiro passo para a reconstrução da área. Mas, às vésperas do sétimo aniversário da derrubada das Torres Gêmeas por terroristas, a impressão é que muito pouco mudou ao longo desses anos. A demora na reconstrução do lugar que ficou conhecido como Marco Zero envolve cifras milionárias de investimentos, incentivos ficais e pagamento de seguros, 19 entidades governamentais, interesses do mercado imobiliário, a opinião dos familiares das vítimas dos ataques e o ego estratosférico de arquitetos e urbanistas.

O fato é que nem os prazos nem o orçamento serão cumpridos. “Progressos foram feitos, mas o esforço de reconstrução não está onde deveria nem onde nós prometemos que estaria”, disse, em nota, o governador de Nova York, David Paterson. O memorial, o museu e o pavilhão em homenagem às vítimas, previstos para ser inaugurados em 2011, no décimo aniversário da derrubada das torres, não estarão prontos na data. As estimativas iniciais de um custo de US$ 15 bilhões para a reconstrução deverão subir outros US$ 3 bilhões. A expectativa é de que até o fim do mês prazos e orçamentos mais realistas sejam divulgados pela proprietária da área de mais de seis mil hectares, a Autoridade do Porto de Nova York e Nova Jersey, que também administra os aeroportos, túneis e pontes da região.

Depois da tragédia, por mais de um ano, o local virou sítio de escavações e busca de qualquer objeto que ajudasse a localizar os mortos. Alguns familiares receberam informações de DNA de vítimas apenas em 2006. Outro fator que retardou o início das obras foi a definição do que seria construído ali. Inicialmente, os parentes das vítimas defendiam somente um memorial no lugar das torres. Nada mais. Parte da população, porém, considerava que manter o local sem prédios de escritórios e comércio representaria uma vitória dos terroristas. Para eles, o lugar necessitava ser revitalizado integralmente.

Finalmente, em 2003, foi escolhido o projeto de Daniel Libeskind para a construção dos prédios, que incluía uma cascata e a Torre da Liberdade. Porém, sua proposta foi considerada vulnerável a ataques terroristas e ele entrou em conflito com a Silverstein Properties, incorporadora que administra a área do WTC. A Silverstein escolheu outro arquiteto com a promessa de “honrar o espírito do lugar”. Essa briga durou muito tempo e foi parar na Justiça, em processo de Libeskind contra Silverstein. No fim, o projeto escolhido foi do arquiteto David Childs, do Skidmore, Owings e Merrill LLP. Quando estiver pronta, a Torre da Liberdade será a segunda mais alta do mundo, atrás do Burj Dubai, que estará pronto em 2009. Nela serão utilizados vidros temperados que têm resistência única. Se forem atingidos por um avião, uma bomba ou um míssil, não estourarão com violência nem se transformarão em estilhaços pegando fogo, que voam para longe (como aconteceu com as 43.600 janelas das Torres Gêmeas, no 11 de Setembro), mas quebrarão rapidamente em pedacinhos.

Quando a reconstrução estiver completa, o sul da ilha de Manhattan terá uma nova cara. O memorial e o museu, que tem como presidente o prefeito Michael Bloomberg, custarão US$ 530 milhões, financiados por doações privadas e pela Lower Manhattan Development Corporation. O pavilhão de entrada do museu, de US$ 80 mil, será pago pelo Estado de Nova York. No subterrâneo haverá uma gigantesca estação de metrô e trem idealizada pelo arquiteto Santiago Calatrava. Por economia, o projeto de US$ 2,5 bilhões já foi modificado.

O memorial será uma praça circundando dois quadrados vazios no lugar onde ficavam as Torres Gêmeas. Os nomes das vítimas estarão à mostra ao redor dos espaços, que terá cascatas e piscinas. O museu terá uma entrada no nível da rua onde estará a praça, mas será construído no subsolo. A estrutura do museu deverá ficar abaixo da praça, por isso ele deve ser erguido primeiro. Os visitantes descerão para o nível do museu à medida que passarem pelo que sobrou das colunas das torres, por uma escada utilizada por centenas de sobreviventes e por um pedaço de muro construído para aterrar o local, que fica ao lado do rio Hudson. Para ninguém jamais se esquecer do que motivou toda essa estrutura.