10/09/2008 - 10:00
Até a metade do século XIX, o banheiro ficava do lado de fora da casa. Depois, foi incluído como um cômodo para toda a família. Mais tarde, surgiram as suítes – primeiro, como privilégio do casal e, a seguir, como anseio de todos os moradores. Também não é raro casais que têm cada qual o seu banheiro. Hoje podese dizer que ele invadiu a casa toda. A tendência, já realidade em vários endereços, é derrubar paredes e botar banheiras, pias e chuveiros integrados aos quartos, totalmente devassados. Admite-se, também, banheiras e ofurôs em salas e terraços. O último espaço de privacidade é o vaso sanitário. A novidade pretende diminuir a sensação de confinamento nos apartamentos cada vez menores das grandes cidades, ampliar os espaços (sem muitas paredes e portas) e promover o bem-estar.
“Não se trata de modismo. Vivemos uma tendência de confinar menos e viver melhor”, destaca o arquiteto Juarez Farias Jr. O desmembramento do espaço mais privado da casa é um sinal de novos tempos, de famílias reduzidas, como diz a professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Claudia Roberta Santos. “A exposição de corpos não funciona se a casa tiver muitas pessoas. São projetos voltados para casais sem filhos ou solteiros”, acredita.
Apesar de ter duas crianças em casa, a advogada carioca Claudia Nunes, 41 anos, investiu num banheiro integrado para o quarto do casal. Há três anos tem pia e banheira sem paredes, proposta do arquiteto Maurício Nóbrega. Ela conta que se sentia presa nos banheiros tradicionais e queria aliar os momentos de cuidado com a beleza à proximidade com o marido. E garante ter ganhado em qualidade de vida. “À noite, acendo poucos pontos de luz, abro as cortinas e tomo um banho demorado contemplando a lagoa Rodrigo de Freitas”, diz ela. “É o máximo.”
Também é uma solução para casais com rotinas atribuladas. Para a agente de viagens Sonia Lampreia de Carvalho, 53 anos, a pia e o chuveiro integrados ao quarto permitem a ela e ao marido compartilhar o ambiente ao mesmo tempo. “Além disso, o visual fi cou um espetáculo”, orgulha-se. “E a solução não é tão antipática como criar banheiros separados”, completa Pedro Paranaguá, o arquiteto de Sonia. A Casa Cor Rio 2008, evento de arquitetura e decoração, na sua versão carioca deste ano explora a versatilidade dos banheiros. Um dos arquitetos, Jairo de Sender, projetou um ofurô no meio da sala, de frente para a tevê. “Para adotar o estilo, é preciso ter irreverência e descontração”, indica. Ele diz que há muitas alternativas para integrar sem devassar demais, como vidros jateados e materiais opacos, além das tradicionais cortinas, venezianas ou telas. Na mesma Casa Cor, a arquiteta Ângela Leite Barbosa oferece alternativa diferente: pia camufl ada num móvel de madeira com jeito de penteadeira. “A solução transformou a bancada numa opção mais versátil e sofi sticada”, aposta.
O vaso sanitário ainda é o último reduto de privacidade. Mas não por muito tempo se depender de arquitetos como Hélio Pellegrino, defensor de uma “atitude mais naturalista no cotidiano.” Em Búzios, no Rio, um de seus projetos tem a sala de banho separada do quarto apenas por uma porta de correr de vidro transparente. Pellegrino vê poesia na ausência de paredes nas casas. “Chega dessa assepsia de banheiros com cara de Instituto Médico Legal. Observar a coreografi a do parceiro no banho e ganhar a iluminação natural do espaço mais amplo pode ser belíssimo. Integrar é dar um pouco de vida e luz a quem habita o espaço”, refl ete. Uma idéia romântica e sofi sticada ao mesmo tempo.