10/09/2008 - 10:00
Quem assiste à atriz Claudia Ohana na novela global A favorita entende perfeitamente por que sua personagem enlouquece de paixão o cunhado, interpretado pelo ator Chico Diaz. Mãe de Dandara, 24 anos, e avó de Martin, três anos, a atriz exibe um frescor e uma beleza irretocáveis em plenos 45 anos. Não há nem sinal de envelhecimento à vista. “As pessoas que acompanham meu trabalho vivem dizendo que o tempo não passou para mim, que estou com a mesma cara”, conta Claudia, que confessa também ter aumentado o investimento, de tempo e dinheiro, para manter-se bonita com o passar dos anos. Ela faz parte de um grupo cada vez maior de pessoas que aparentam menos anos vividos do que os que constam na carteira de identidade. É a era da idade indefinida, um fenômeno mundial que ganha evidência graças à adoção de hábitos saudáveis, um arsenal de cosméticos avançados e técnicas de rejuvenescimento que empregam o que há de mais moderno em tecnologia. Por isso, especialmente na faixa entre 30 e 45 anos, as pessoas parecem ter a mesma idade.
A cultura do prolongamento da juventude ganhou força especialmente nos últimos cinco anos. Entre os expoentes da idéia de que menos (idade) é mais (beleza) está o programa 10 anos mais jovem, um dos campeões de audiência do canal pago Discovery Home and Health, produzido pela BBC de Londres. Em meia hora, a pessoa envelhecida, com uma história triste que explica o descuido do visual e uma auto-estima a acompanhar um rodapé, passa pelas mãos de dentista, dermatologista, cabeleireiro, maquiador e consultor de imagem. Surge, então, das cinzas um novo ser humano, totalmente repaginado. Quando o participante vai às ruas para o julgamento popular, a desforra: dez anos mais jovem. Às vezes, 15 ou 20. Debaixo de uma enxurrada de elogios, ele retoma a vida confiante como nunca. E quem não quer ser exemplo de beleza que ataque o primeiro anti-rugas. Uma pesquisa da empresa Dove comandada por especialistas da Universidade Harvard, nos EUA, com 1.450 mulheres de 9 países, incluindo o Brasil, revela que 91% delas se sentem bem quando ouvem que aparentam menos idade. “A classificação etária deveria ser redefinida”, afirma Ronaldo Leão Abud, médico da Sociedade Brasileira de Medicina Ortomolecular. “A idade cronológica já não é mais a mesma. Pessoas com 60 anos nem sempre são compatíveis com 60 anos. Os parâmetros têm de ser biológicos, não mais cronológicos.”
O desejo pela aparência jovial é um fenômeno que foi se estruturando com o tempo. Até a década de 40 importava mais parecer rico, maduro e sedutor do que jovem. Donas-de-casa tentavam se aproximar do ideal de madame representado pelas estrelas de cinema. Os primeiros passos na busca pela juventude têm início na década de 50. “Começa a valorização do corpo feminino adolescente, que se torna uma febre nas revistas masculinas. Nascem as lolitas”, conta a professora de história Denise Santanna, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A glamourização explode nos anos 60, com as cirurgias plásticas e os movimentos revolucionários enaltecendo o poder jovem. “A diferença é que, ainda assim, no passado, a juventude tinha idade para acabar. Hoje não”, diz Denise. A dermatologista Ligia Kogos, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, afirma que aqueles que foram jovens na década de 60 se sentiram injustiçados com o envelhecimento. “Essa geração, com dificuldade para se enxergar amadurecida, impulsionou a indústria de tratamentos para retardar os sinais dos anos”, afirma Ligia, a segunda maior aplicadora de toxina botulínica do mundo. A medicina foi a responsável pelo prolongamento da juventude. O controle de males como câncer, doenças cardiovasculares, osteoporose e depressão aumentou a expectativa de vida. A importância da alimentação saudável e dos exercícios físicos tornou-se evidente. “Postura firme e corpo ágil transmitem jovialidade”, diz a dermatologista. “É uma questão multifatorial”, afirma Rolf Gemperli, cirurgião plástico do hospital Albert Einstein, de São Paulo. “Para manterem-se jovens, as pessoas se preocupam com o que comem, com a maneira como se exercitam, com sua qualidade de vida. E sofrem intervenções cirúrgicas menos invasivas e mais cedo”, diz Gemperli, completando que o que importa é parecer bem e, principalmente, natural.
O desejo pela aparência jovial é um fenômeno que foi se estruturando com o tempo. Até a década de 40 importava mais parecer rico, maduro e sedutor do que jovem. Donas-de-casa tentavam se aproximar do ideal de madame representado pelas estrelas de cinema. Os primeiros passos na busca pela juventude têm início na década de 50. “Começa a valorização do corpo feminino adolescente, que se torna uma febre nas revistas masculinas. Nascem as lolitas”, conta a professora de história Denise Santanna, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A glamourização explode nos anos 60, com as cirurgias plásticas e os movimentos revolucionários enaltecendo o poder jovem. “A diferença é que, ainda assim, no passado, a juventude tinha idade para acabar. Hoje não”, diz Denise. A dermatologista Ligia Kogos, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, afirma que aqueles que foram jovens na década de 60 se sentiram injustiçados com o envelhecimento. “Essa geração, com dificuldade para se enxergar amadurecida, impulsionou a indústria de tratamentos para retardar os sinais dos anos”, afirma Ligia, a segunda maior aplicadora de toxina botulínica do mundo. A medicina foi a responsável pelo prolongamento da juventude. O controle de males como câncer, doenças cardiovasculares, osteoporose e depressão aumentou a expectativa de vida. A importância da alimentação saudável e dos exercícios físicos tornou-se evidente. “Postura firme e corpo ágil transmitem jovialidade”, diz a dermatologista. “É uma questão multifatorial”, afirma Rolf Gemperli, cirurgião plástico do hospital Albert Einstein, de São Paulo. “Para manterem-se jovens, as pessoas se preocupam com o que comem, com a maneira como se exercitam, com sua qualidade de vida. E sofrem intervenções cirúrgicas menos invasivas e mais cedo”, diz Gemperli, completando que o que importa é parecer bem e, principalmente, natural.
Prevenção se tornou a palavra-chave na era da idade indefinida, o que fez da geriatria, especialidade ligada ao cuidado de idosos, uma tendência entre pessoas cada vez mais jovens. “Elas estão preocupadas em manter a independência física, mental e social pelo tempo mais longo possível”, diz o geriatra Carlos Montes Paixão Junior, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Rio de Janeiro. No consultório da geriatra carioca Carla Frohmuller Andrade os pacientes entre 30 e 40 anos representam 25% do total. “Com uma investigação completa sobre estado de saúde e histórico familiar, podemos intervir nos fatores de risco de doenças”, afirma. A agente de investimentos Alessandra Mello Vaz, 37 anos, diz que as pessoas fazem piada quando ela conta que vai ao geriatra. Nada que a faça desistir das orientações. “Tenho outra disposição. E minha pele, meu cabelo e minhas unhas estão mais bonitos.” Consciente de que o estilo de vida é um aliado para retardar o envelhecimento, a designer de jóias Eliete Pampalon, 42 anos, disciplinou sua rotina nos últimos 15 anos. A alimentação inclui produtos orgânicos e zero de frituras, embutidos e refrigerantes. Cinco vezes por semana ela se dedica a uma hora e meia de academia e, diariamente, limpa, hidrata e protege a pele com filtro solar. Já se submeteu a sessões de peeling e toxina botulínica. Vaidosa, admite que se sente bem quando lhe dão entre 28 e 30 anos. “O que me deixa mais feliz são os resultados dos meus exames anuais atestando que minha saúde está ótima. Minha massa óssea, que tenderia a diminuir com a idade, só aumentou”, diz a designer
Eliete conta com uma genética privilegiada – o que ajuda muito a prolongar a juventude, concordam os especialistas. “Minha mãe só teve rugas depois dos 65 anos”, diz a designer, que tem orgulho de revelar a idade. “Não me incomoda. Estou tranqüila com essa fase.” O que para ela é um prazer anunciar pode ser problema para muita gente. O professor de educação física Roberto Calabreze, coordenador da academia Competition, em São Paulo, diz que a partir dos 40 anos algumas pessoas se sentem desconfortáveis quando descobrem que a idade deve ser revelada na avaliação física. “Explicamos que é fundamental para entender dados como freqüência cardíaca e índice de massa corporal”, conta. Esconder a idade pode parecer bobagem num primeiro momento. Mas há quem diga que tal revelação gera preconceito. Um candidato a emprego pode ser eliminado pela data de nascimento que consta no currículo, diz a dermatologista Ligia. “A aparência se tornou status e fator de credibilidade.”
A psicóloga Claudia Stella, professora da Universidade Mackenzie, em São Paulo, concorda que a sociedade respeita mais quem aparenta ser jovem. “Pesquisas mostram que o candidato a um emprego jovem e bonito é escolhido porque faz com que o outro vivencie um pouco desses privilégios num ambiente que tende a ser cansativo”, diz a psicóloga. Ainda não é regra. Em muitos casos, parecer mais velho no trabalho é necessário. O encarregado comercial Fernando Fonseca, 23 anos, da Macro Auditoria e Consultoria, se dirige às pessoas com fala firme e desenvoltura que não lembram em nada alguém da sua idade. Fonseca diz que essa postura é a adequada para lidar com seus clientes – todos mais velhos do que ele. “Só vejo vantagens na minha aparência. Gosto de transmitir maturidade. É fundamental para a carreira.” O contrário também acontece. Para o fisioterapeuta Robson Batista, 40 anos, aparentar menos anos – chegaram a dar 22 para ele – causa constrangimento em algumas situações. “Já sofri preconceito ao ministrar cursos. No começo, as pessoas ficam inseguras, acham que sou jovem demais para o currículo que anuncio”, conta.
Desejar a jovialidade não é problema. Cuidados com a aparência e a saúde são positivos. A atriz Claudia Ohana é a prova de que dar atenção ao próprio corpo compensa o esforço. “Hoje, perco mais horas com exercícios, cremes e visitas a médicos. Mas gosto de me sentir bonita e saudável”, diz a artista, que é reticente com cirurgias plásticas – nunca fez. “Tenho medo de me transformar em outra pessoa. Não quero julgar ninguém, mas é preciso saber envelhecer.” O perigo é o exagero que transforma o ideal de juventude em uma tirania. “Quem acha que nunca está bem e quer mudar mais e mais o corpo corre o risco de se frustrar a ponto de entrar em depressão. A mudança deve ser interna e não externa”, diz a psicóloga Claudia. Também há o perigo de todos ficarem com a mesma cara. “O padrão buscado hoje são cabelos alongados e boca grande”, alerta a dermatologista Adriana Vilarinho. Em geral, as pessoas entenderam que gostar do que vêem no espelho é fundamental para seu bem-estar geral. Mas também estão mais conscientes em respeitar limites, diz o cirurgião plástico José Tariki, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Cada vez mais os pacientes desejam prevenir para retardar cirurgias invasivas. “Eles chegam ao consultório pedindo resultados naturais. Ninguém quer mudanças evidentes.” Por isso, tratamentos dermatológicos que renovam a pele tiveram um boom nos últimos dez anos. A toxina botulínica é considerada divisor de águas em procedimentos estéticos ao combater rugas de expressão que até então não tinham jeito. O sucesso permitiu aumentar incríveis 5.000% o número de aplicações entre 1997 e 2007 no mundo, de acordo com dados da Allergan, laboratório que produz o Botox. Preenchimentos de rugas, peelings e aplicações de laser contra manchas também entram no pacote pró-jovialidade.
As técnicas costumam ser caras. A boa notícia é que, aperfeiçoadas e procuradas por um número maior de pessoas, há a tendência de se tornarem mais acessíveis, diz a dermatologista Ligia. “Não interessa a ninguém que esse trabalho seja restrito. Nem aos médicos nem à população.” O tratamento com laser para combater manchas e melhorar a textura da pele no rosto custa, em média, R$ 1,2 mil por sessão – são necessárias pelo menos cinco. Recentemente, surgiu uma técnica que usa emissão de luzes combinada com a aplicação de cosméticos que levam ácido na fórmula, também para amenizar manchas e trazer viço à pele. Uma única sessão resolveria o problema, por R$ 1 mil. Sinal de que no futuro a idade indefinida poderá estar ao alcance de todos.