10/09/2008 - 10:00
Preso desde 1999, o ex-deputado federal Hildebrando Pascoal está livre de uma testemunha que poderia complicar sua situação somando mais tempo aos 25 anos de prisão que cumpre no Acre pela morte do policial civil Walter Ayala, ocorrida dois anos antes. O policial militar Manoel Décio Santos de Lima, que foi assassinado no dia 28 do mês passado, conhecia bem as atividades do grupo comandado por Hildebrando, ex-comandante da Polícia Militar acreana. Ele foi testemunha em mais de um caso relacionado à família Pascoal, entre os quais o famoso “crime da motosserra.” Tratase do brutal assassinato, em 1996, do mecânico Agilson Firmino dos Santos, conhecido como “Baiano”. Ele foi seqüestrado e cortado, ainda vivo, com uma motosserra. O motivo da barbárie foi o fato de Baiano ter participado do assassinato do irmão de Hildebrando, Pedro, durante uma briga num posto de gasolina na capital acreana. O PM Santos de Lima relatou fatos importantes sobre essa morte e também a de Wilder, filho de Baiano, morto a tiros aos 13 anos de idade. O julgamento pelos assassinatos de pai e f ilho devem acontecer dentro de poucos meses. Agora, sem o importante testemunho de Santos de Lima.
Apesar das evidências, o promotor de Justiça Danilo do Nascimento, do Ministério Público do Acre, disse que não há provas de que Santos de Lima foi vítima de ação comandada pelo ex-deputado federal. “A polícia está investigando. Há a possibilidade de o policial ter sido morto numa disputa de terras naquela região”, afirmou. Sabe-se, até agora, que ele foi baleado numa rodovia a 483 quilômetros de Goiânia. Uma testemunha o viu saltar do carro ensangüentado, pedindo socorro. Perseguido pelo criminoso, acabou alvejado e morreu com oito tiros. Nascimento explicou que o policial estava parcialmente inserido no Programa de Apoio e Proteção a Testemunhas, Vítimas e Parentes das Vítimas (Provita). Isso porque ele queria continuar recebendo seu soldo pela Polícia Militar e não pretendia perder o vínculo com os parentes. Por isso, foram adotadas para ele apenas medidas de “proteção isolada”, como a mudança de Estado.
Mas o policial militar não é a primeira testemunha contra o ex-deputado que acabou morta. No fim da década de 1990, foi assassinado o soldado Sebastião Crispim da Silva, que havia procurado o Conselho de Defesa da Pessoa Humana do Ministério da Justiça para depor contra Hildebrando.
Na edição da semana passada, ISTOÉ publicou a r e p o r tagem “Sob o domínio do medo”, chamando a atenção para sucessivas falhas no método de proteção a testemunhas adotado no Brasil. Uma das entrevistadas, identif icada apenas como “Cláudia”, pediu para que seu filho permanecesse no programa mesmo após o prazo protocolar de dois anos de abrigo, pois achava que o rapaz seria morto se voltasse a viver sozinho. O procurador da República Marcelo Müller, do Conselho Deliberativo do Provita no Rio de Janeiro, afirmou que o apelo foi atendido e o prazo, prorrogado. “O testemunho dele foi importantíssimo para a condenação dos policiais acusados da morte do traficante Carlos Antonio Ruff. Ainda há risco para ele”, reconheceu.