Os especialistas em nutrição ensinam  que os alimentos crus contêm mais nutrientes do que os cozidos. O calor do cozimento, segundo eles, promove a perda de substâncias importantes, empobrecendo o conteúdo nutricional dos ingredientes. Além disso, o processo pode ainda impedir que o verdadeiro sabor do alimento seja conhecido. O duro, no entanto, é ter imaginação suficiente para criar pratos com iguarias cruas que possam ir além da conhecida salada-de-alface-tomate-e-cenoura.

Porém, como o apelo saudável é cada vez mais forte ganha força em todo o mundo uma corrente da gastronomia mais sofisticada que se baseia somente no uso de ingredientes que nem chegam perto do fogão. Trata-se da raw-food (comida crua, em inglês) ou crudivorismo, na versão aportuguesada. A modalidade é um dos ramos do vegetarianismo, a alternativa de alimentação cujo cardápio contém apenas vegetais. A onda está se tornando tão importante que até congressos internacionais sobre o tema começam a ser realizados. O último aconteceu no Brasil, no início do mês, no Costão do Santinho Spa & Resort, em Florianópolis. A estrela do encontro foi o jamaicano Aris La Tham, considerado o mestre da raw-food e eleito um dos melhores chefs vegetarianos dos Estados Unidos pela revista Vegetarian Times, a bíblia do vegetarianismo mundial.

A badalação em torno de Aris faz sentido. Com uma cozinha super-criativa, ele mudou o conceito de que a comida crua não tem sabor. Durante seis anos, os americanos se renderam às iguarias sem cozimento elaboradas por ele em seu restaurante, o Sunfire Juice Club, no Brooklyn, em Nova York. Aris não cozinha a maioria dos alimentos utilizados em suas receitas. O sabor, às vezes exótico, provém principalmente dos temperos. “Para dar característica e sabor, uso muito manjericão e coentro em minhas saladas. Na hora de salgar, a dica é abusar das azeitonas verdes. São ótimas. E, para fazer um bom patê, misturo beterraba com amêndoas”, revela. As deliciosas irreverências do chef jamaicano chegam até a um sushi de queijo feito, acreditem, sem queijo – o que por si só já é uma estripulia gastronômica. Aris tritura castanha de caju e adiciona um pouco de água para transformar a iguaria num tipo de massa visualmente parecida com queijo. Depois, o procedimento é semelhante ao sushi tradicional: folhas de alga marinha envolvem o criativo recheio composto de “queijo” de castanha de caju, pimentões, espinafre, broto de alfafa e, é claro, as tais azeitonas verdes para dar o toque final. O resultado? Delicioso. No Brasil, infelizmente, ainda não existe um restaurante especializado nesse tipo de cozinha.

* A repórter viajou a convite do Costão do Santinho Spa & Resort