Misturar o supra-sumo da cultura inútil com informações realmente relevantes sobre a capacidade do ser humano e de a natureza superarem seus limites – essa é a receita de sucesso do livro Guiness world records, que completa meio século em 2005. A edição comemorativa da data já está nas livrarias, publicada pela Ediouro. Do bate-boca ocorrido em 1951 entre Hugh Beaver, diretor da cervejaria Guiness, e seus amigos sobre qual seria a ave mais rápida da Europa, nasceu a idéia de registrar todos os recordes do planeta. O livro ficou pronto quatro anos depois, com clara tendência ao besteirol, e essa característica é confirmada na edição do cinquentenário. Ou será que alguém realmente se interessa em saber que em 1945 uma galinha chamada Mike bateu o recorde de sobrevivência sem cabeça , ou que um americano criou uma bola de barbante com 40 metros de diâmetro, ou ainda que a campeã de depilação é a britânica que raspou 22 pares de pernas em uma hora? Ao lado de tópicos risíveis, há dados interessantes sobre a ciência ou economia. Assim, o Guiness tornou-se o terceiro livro mais vendido do mundo, atrás apenas da Bíblia e do Alcorão.

Não há dúvida de que foram os recordes esquisitos – e suas fotos não menos esdrúxulas – os principais ingredientes a alçar o Guiness à vendagem de 100 milhões de exemplares em uma centena de países. Conhecer o menor cachorro vivo (Pequeno Pinóquio, um yorkshire-terrier de 20,3 centímetros), o maior (Hervey, um dinamarquês, com 105,41 cm de altura e 231,14 cm do focinho à cauda) e o mais extenso dominó humano (feito em Cingapura, com 9.234 participantes) não mudará o destino de ninguém, mas nesses 50 anos a curiosidade dos leitores mostrou-se mais forte do que a razão.

Os brasileiros estão lá, representados por personagens como Gisele Bündchen, a modelo que mais faturou em um ano de trabalho. Mas é justamente na menção de um recorde brasileiro que a última edição do Guiness escorrega feio. O Maracanã é citado como um dos recordistas que se mantêm ao longo desses 50 anos, por ser o maior estádio do mundo, com capacidade para 205 mil torcedores. Na verdade, o Maracanã passou por uma reforma em 2000 e desde então sua capacidade é de 72 mil torcedores. Um erro que não estraga a festa do cinquentenário, mas põe em dúvida seus critérios. Afinal, pode perguntar o leitor, como os fiscais do Guiness inspecionaram as outras galinhas sem cabeça, até chegar à recordista?