08/12/2004 - 10:00
Graças à agudeza e à precisão com que enxergava a sociedade de sua época, o francês Honoré de Balzac (1799-1850) tornou seus tipos e arquétipos eternos contemporâneos. É o que acontece em Os jornalistas (Ediouro, 184 págs., R$ 29), no qual ele aponta mazelas que persistem até hoje, como excesso de vaidade e falta de cultura geral nas redações. Balzac estrebucha de raiva, mas argumenta com talento. Ele critica também a abnegação de leitores que vêem “seus jornais mudarem de ódios, louvando hoje homens contra os quais abriam fogo ontem”, mas continuam assinantes destes mesmos periódicos.
Ao longo do livro, o autor da monumental Comédia humana produz sólidos axiomas. “Para o jornalista, tudo o que é provável é verdadeiro” ou “a crítica hoje só serve para uma única coisa: fazer viver o crítico” são alguns. O melhor, entretanto, continua sendo “se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la”, porque incorpora o azedume e o humor de Balzac. Ele se diverte tachando profissionais de redação de “nadólogo”, “panfletário” ou “publicista de carteira” e mostra-se especialmente enfezado com a crítica. “Existe em todo crítico um autor impotente.” A penúria do jornalismo pode ser reduzida à certeza de que “quanto menos idéias se tem, mais longe se vai”. Este tema é atual para debate.
Balzac conta a história de uma fraude similar à que ocorreu no The New York Times, no ano passado, quando se descobriu que o jornalista Jayson Blair inventava reportagens. O autor francês diz que Napoleão pagou pensão a um homem que, durante cinco anos, publicara no Le moniteur falsos boletins da guerra dos afegãos contra os ingleses. Quando soube, Napoleão perdoou o homem porque o que ele publicava atendia a seus interesses. Blair foi demitido e o jornal americano pediu desculpas publicamente. Ou seja, nem tudo continua tão ruim. Apesar de esquecer de falar sobre os grandes nomes e serviços que a imprensa também produz, o livro é altamente recomendável. Como diz a nota da edição francesa, “os grandes escritores são os melhores profetas. Sim, é preciso reler Balzac”