08/12/2004 - 10:00
Paris, maio de 1968. Enquanto a juventude toma os bulevares, entre as quatro paredes do apartamento de Os sonhadores (The dreamers, Itália, França, Inglaterra, Estados Unidos, 2003), de Bernardo Bertolucci, em cartaz nacional na sexta-feira 10, os gêmeos incestuosos Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrel) promovem uma outra revolução. Na companhia do estudante americano Matthew (Michael Pitt), que eles conheceram na Cinemateca Francesa, Isabelle e Theo lançam-se em perversos jogos amorosos. Cinéfilos de carteirinha, a dupla adora adivinhação de títulos cult e quem errar leva punições de fazer sorrir o Marquês de Sade. Theo, por exemplo, é obrigado pela irmã a se masturbar com sua foto preferida de Marlene Dietrich; Isabelle, por sua vez, deve ser possuída na frente do gêmeo pelo americano de “primeira viagem”.
Theo tem algo do Jean Paul Belmondo, de Acossado, obra-prima de Jean-Luc Godard; Isabelle é a cara da Jeanne Moreau, do fabuloso Jules e Jim – uma mulher para dois, de François Truffaut; e Matthew parece saído de um filme de Nicholas Ray. Tudo somado, é como se Bertolucci tivesse adaptado o livro Les enfants terribles, de Jean Cocteau, ao contexto da explosiva nouvelle vague francesa. Entre discussões sobre a supremacia de Buster Keaton a Charles Chaplin, e ao som de clássicos da contracultura, como Hey Joe, de Jimi Hendrix, surgem pensamentos como “Mao é um diretor de cinema à frente de um filme épico”, frases de efeito que resumem todo o clima de uma época. Existe algo de nostálgico na homenagem de Bertolucci aos loucos anos 1960 de seu “tango a três”, que se mostra fiel à temática político-sexual de sua obra. Natural. De lá para cá, o entusiasmo se tornou algo raro e a juventude tem sonhado muito menos do que merece.