08/12/2004 - 10:00
A resposta tarda, mas não falha. Exatamente 22 anos depois da derrota para o Reino Unido na Guerra das Malvinas (1982), nuestros hermanos argentinos acertaram novamente uma fragata britânica. Um tiro de canhão atingiu em cheio o navio HMS Battleaxe F-89, na segunda-feira 29. Mas nessas duas décadas muita água rolou. A fragata não mais faz parte da Royal Navy (Marinha Britânica), e sim do 2º Esquadrão de Fragatas da Marinha do Brasil, com o nome de Rademaker. O famigerado disparo de canhão, que chegou com mais de 20 anos de atraso, foi, na realidade, um acidente ocorrido a 300 quilômetros de Cabo Frio (RJ), onde os dois países realizavam exercícios de tiro. Por sinal, esses exercícios em conjunto, que acontecem desde 1978, têm a eloquente alcunha de “Operação Fraterno”. Como se não bastassem as décadas de atraso, o acidente aconteceu um dia antes de uma data especial, o Dia da Amizade Argentino-Brasileira. Também conhecida como “dia dos muy amigos”, idéia dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner. Como se vê, muy amigos.
O combinado entre as duas Marinhas era que, às 21h30, um navio argentino deveria acertar uma granada iluminativa atirada ao mar pela fragata Rademaker. Pois bem, deveria. No entanto, o tiro saiu pela culatra e acertou a fragata brasileira. As causas do acidente estão sendo investigadas pela Marinha brasileira, que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM). O acidente deixou cinco feridos. Quatro militares da Marinha do Brasil e um oficial argentino.
Parece piada, mas não é. A fragata brasileira atingida acidentalmente pelo navio argentino é uma remanescente da guerra das Malvinas, tendo, inclusive, participado de combates na região. Construída por um estaleiro escocês em 1976, ela foi incorporada à Royal Navy em 1980 com o nome de HMS Battleaxe F-89. Por 17 anos, a fragata de mais de 130 metros de comprimento serviu à Sua Majestade, participando, até mesmo, da guerra do Iraque (1990). Em 1994, a Marinha do Brasil assinou a compra da Battleaxe e de outros quatro navios por cerca de US$ 170 milhões. E, finalmente, no dia 30 de abril de 1997, a fragata deu baixa na Marinha Britânica e tornou-se a mais nova arma de guerra brasileira, sendo então batizada de Rademaker em homenagem ao almirante Augusto Hamann Rademaker Grünewald, que foi ministro da Marinha e depois vice-presidente. Se, na Guerra das Malvinas, a fragata conseguiu escapar dos disparos argentinos, dessa vez não foi possível.