Respeitável público! Acaba de chegar às livrarias (em luxuosa edição) uma encantadora história da cultura popular brasileira. Trata-se do livro Circo Nerino. No picadeiro Roger Avanzi e Verônica Tamaoki, os autores, nos apresentam fotografias raras, depoimentos e ilustrações para contar a trajetória de uma das primeiras trupes do Brasil – o Circo Nerino. O escritor Roger Avanzi, que também é o palhaço Picolino II, tem 82 anos e é filho de Nerino Avanzi, o primeiro Picolino que fundou a companhia. O Circo armou-se em 1917 e desarmou-se para sempre em 1964. “Passei a minha vida montando e desmontando circo. Ainda hoje sonho que estou nessa labuta. E acordo exausto”, diz Roger. Ele comandou por meio século essa intrépida trupe que levou palhaços e equilibristas, engolidores de fogo e atiradores de faca, malabaristas e acrobatas para todos os cantos do País. A gargalhada itinerante do Circo Nerino encantou o famoso fotógrafo e antropólogo francês Pierre Verger. Em 1947, ele propôs à antiga revista Cruzeiro uma reportagem sobre o circo e é de sua autoria boa parte das fotos que estão no livro. A maioria dos artistas era da família Avanzi, mas volta e meia aparecia alguém querendo “fugir” com esses saltimbancos. Há histórias peculiares. Até o cineasta americano Orson Welles desfila nelas. A sua famosa transmissão radiofônica e fantasiosa feita em 1949, em que ele descreve a suposta invasão da Terra por marcianos, desesperou ouvintes desavisados que acreditaram na notícia. E lá no interior do Maranhão vivia um desses desavisados: Francisco Carrero de Barros ouviu tudo pela rádio CBS, e assustado diante da aterradora possibilidade do fim do mundo decidiu ir atrás de um sonho: “vou embora com o circo”, disse ele a sua mãe. E foi mesmo. Esteve nos picaderios com o Circo Nerino até que a lona fosse desmontada para sempre após o último espetáculo.